25.2.08

e que tal meter Durão no avião?

Que os portugueses tenham ficado satisfeitos com a ida de Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia, compreende-se. Por um lado, conseguiam assim livrar-se de um mau primeiro-ministro, o que representava um alívio nacional. (E, como bónus, mostrava-se que, por muito mal que estejamos, podemos sempre ir para pior.) Por outro lado, podiam esperar que o homem, em Bruxelas, vigiado por maior número de olhos habituados a escrutinar governantes, não teria tanto espaço para fazer disparates como o que dispunha neste jardim à beira-mar plantado onde são tão escassos os meios para a soberania do povo pesar mais do que o aparato do poder.
Que, agora, o governo português se ponha do lado errado da história, contra o estado de direito e em desrespeito pelos direitos humanos, principalmente para salvar a pele política do mesmo Durão Barroso, isso já é tolice redonda. O caso dos voos da CIA, e parece que também dos navios, que terão usado o território de países democráticos para cometer ilegalidades violadoras dos direitos humanos, para alimentar à margem da lei o inferno de Guantanamo, deveria provavelmente levar ao despedimento sumário de Barroso.
Mas este continua, e cada vez mais arrogante, escorado provavelmente na estranha cumplicidade dos socialistas portugueses. Apesar dos esforços de Ana Gomes, a conspiração para esconder a verdade parece continuar. Para quem conhece alguma história das capelinhas do PS português, esta complacência com o disparate americano, mesmo contra as exigências da decência, faz lembrar que o "gamismo" (a corrente admirativa do actual presidente do Parlamento) não morreu e continua com mão forte sobre a política externa do país.
Pode ser que, à custa de tanto tentar proteger o vilão, o próprio Sócrates venha a ser chamuscado pela "mentira de Estado". Quanto mais não seja porque, mais tarde ou mais cedo, virá dos próprios EUA a luz sobre o que realmente se passou. Graças aquelas virtudes da democracia americana que alguns dizem admirar mas parecem não compreender. A virtude que consiste em acabar quase sempre por contar o que os mandantes do momento queriam ilegitimamente esconder.
E, nessa altura, não nos peçam para chorar pelos que tenham de pagar a conta da sua própria mentira.