26.2.08

a (des)crença como método

«[Em Development as Freedom, Amartya Sen] faz a importante observação de que não é necessário ganhar uma eleição para atingir os objectivos políticos. Mesmo em democracias pouco sólidas, aquilo em que os líderes acreditam, relativamente às crenças que prevalecem nos seus países, influencia o que eles consideram as suas opções realistas, pelo que a manutenção da crença é um objectivo político importante por direito próprio.» Evocando o grande pensador Sen, assim lembra Daniel Dennett, in Quebrar o Feitiço - A Religião como Fenómeno Natural, Esfera do Caos (p.170).
Exacto.
Manter a crença pode ser um objectivo político. E semear a descrença também. Pelas mesmas razões: porque pode favorecer ou impedir a prossecução de políticas.
Entretanto, vale a pena perguntar: que custos tem para a democracia lutar por (ou contra) objectivos políticos pelo método de semear a descrença? Não seria mais positivo confrontar propostas, projectos, ideias para resolver os problemas? Porque será que o actual método de oposição em Portugal passa principalmente por semear a descrença, e até o descrédito de tudo o que possa cheirar a poder?
O problema do método de semear a descrença é que ele, se for ganhador, não mata apenas a possibilidade de concretizar esta política. Mata a própria política como exercício de escolha. Porque a descrença acaba por tomar como objecto a própria democracia.