4.9.07

O facilitismo, doença infantil dos radicais da palavra (Lendo Teodora Cardoso - 1)

Teodora Cardoso escreveu na sua coluna regular no Jornal de Negócios (31-07-07), sob o título "Mudança Estrutural":

«A economia portuguesa está a mudar na direcção certa, com base no seu próprio esforço de adaptação e não só no acesso a fundos externos e a endividamento, como sucedeu na década de 90.O crescimento e a diversificação das exportações, o abrandamento das importações, a aceleração do investimento empresarial e o crescimento da produtividade total dos factores são indicadores seguros dessa evolução, que tem vindo a acentuar-se desde 2005. O último dos indicadores apontados – a produtividade total dos factores – é especialmente interessante dado que mede a variação do produto que não é devida nem à variação do stock de capital nem à do emprego, reflectindo, portanto, alterações de natureza tecnológica e organizacional, ou seja, acréscimos de eficiência da estrutura produtiva, que terão de constituir a fonte essencial de aumento do rendimento e bem-estar num país cuja população está estagnada, ou mesmo em declínio, e que tem de competir internacionalmente com países com grande abundância de mão-de-obra e custos de produção muito baixos.(...)
Não admira (...) que a opinião pública esteja mais consciente dos aspectos negativos da evolução – exemplificados pela persistência do desemprego, pela quase estagnação do consumo, ou pela correcção das expectativas quanto à evolução da idade da reforma e do valor das pensões – do que do seu lado positivo. As reformas necessárias em áreas chave das políticas públicas, como a educação (desde o ensino básico às universidades), a formação profissional, a saúde ou a segurança social tendem a acentuar essa percepção negativa, não porque reduzam a qualidade dos serviços prestados, mas porque – exactamente para a melhorar – são obrigadas a inverter o facilitismo que caracterizou o período de abundância financeira.
Desse facilitismo resultou, demasiadas vezes, a opção por falsas soluções (...).»