5.9.07

Já que falamos de Estado (Lendo Teodora Cardoso - 2)

Comecemos então por afastar todos os factos, porque eles nada têm a ver com a questão.
J-J.Rousseau, Discours sur l’origine et les fondements de l’inégalité parmi les hommes (1755)

[Deixado no estado primitivo], o homem não conheceria as artes, as letras ou a sociedade; e a sua vida seria solitária, pobre, vil, brutal e curta.
Thomas Hobbes, Leviathan (1651)

Depois de começar pelas citações acima, escreveu Teodora Cardoso, na sua coluna no Jornal de Negócios de 17-07-07:

«As campanhas políticas entre nós estão a adquirir – talvez a retomar? – uma perigosa inclinação para se situarem num plano que agrega o que de pior resulta das opções materialista e idealista de interpretação da realidade. Um dos elementos mais salientes dessa propensão consiste, não em afastar simplesmente os factos, como o idealista Rousseau, mas em os desrespeitar, seleccionando-os e deformando-os. O outro opta por deturpar o pensamento de Hobbes, o autor do Leviathan, mais conhecido entre nós pelo "monstro" e identificado com o Estado gigantesco e ineficiente que impede a sociedade de desenvolver-se, mas que, pelo contrário, o autor definia como a entidade a quem os homens teriam de confiar a responsabilidade pela ordem e bem-estar sociais, por forma a saírem do estado primitivo descrito na citação acima.»