2.5.07

Debate presidencial Ségolène vs. Sarkozy

Acabou há momentos o debate da segunda volta das presidenciais francesas entre Ségolène Royal e Nicolas Sarkozy. Está fora de causa fazer aqui um balanço de ganhos e perdas, porque sou suspeito (prefiro a candidata socialista), mas há duas ou três pequenas notas que não posso deixar de apontar.

Em primeiro lugar, noto que Ségolène diz "quero um país de empreendedores" e Sarkozy diz (e repete) "quero um país de proprietários". Isso diz tudo da diferença entre uma certa esquerda e uma certa direita: o apelo ao ser "proprietário", como primeiro objectivo, é o apelo a uma condição, a um estatuto, a "um estado" - mas não é um apelo à acção, nem à responsabilidade perante a comunidade, nem à imaginação criadora. Uma direita que apela à aspiração de ser "proprietário" é uma direita inspirada nas classes possidentes e ociosas do antigo regime, não é sequer a direita da iniciativa económica e do gosto pelo risco. Ao contrário, a esquerda que diz querer um país de empreendedores (ou de empresários, como mais directamente devíamos traduzir a palavra francesa) é uma esquerda que promete ser capaz de ultrapassar o estatismo, o "tudo-ao-estado", o culto da dependência como solução generalizada. Aí, voto Ségolène.

Em segundo lugar, Sarkozy teve várias oportunidades de mostrar a sua falta de carácter. Especialmente, quando citou repetidas vezes o marido de Ségolène, inclusivamente questionando-a sobre se ela seguia as opiniões dele. É certo que o marido dela é também o chefe dos socialistas, mas mesmo assim o abuso dessa referência parece pouco normal quando as coisas se mantêm no plano das ideias e das atitudes que importam à função pública, não extravasando para a mesquinhez.

Em terceiro lugar, aplaudo que Ségolène tenha reivindicado a sua condição de mulher e de mãe (de quatro flhos), porque é cada vez mais urgente para a qualidade da democracia que se abram as portas do armário e as mulheres cheguem, em força e rapidamente, às mais altas responsabilidades das nossas democracias.
Há, de facto, qualquer coisa em jogo no próximo domingo em França.