3.5.07

“Caixas de Memória”, de Bartolomeu dos Santos, na Galeria Ratton


Inaugura a 10 de Maio, e estará patente a partir do dia seguinte e até finais de Julho, a exposição “Caixas de Memória”. Bartolomeu dos Santos (n. 1931) viu mundo e actualmente vive e trabalha em Londres, Sintra e Tavira, tem exposto e está representado em colecções por esse mundo fora. Do texto que a Galeria Ratton divulgou retomamos o que segue, especificamente sobre esta exposição.
“Caixas de Memórias”, tem um duplo sentido, denotativo e simbólico. A maior parte das obras são caixas, objectos utilitários que o artista subverte, desvia da sua finalidade, transforma em objecto “outro”, não deixando de questionar em tom provocatório o novo estatuto que adquirem: “Is this art?”

As caixas servem, por definição, para guardar objectos, ocultá-los, preservá-los. As caixas de Bartolomeu dos Santos abrem-se na transparência de uma face de vidro, revelam segredos guardados na memória. São caixas mágicas onde sorriem sereias aladas, pacientes Penélopes à espera de Ulisses. Nas imagens femininas transparece uma terna ironia de que reencontramos eco nas alusões explícitas a Fernando Pessoa e ao seu heterónimo Ricardo Reis, seres de uma realidade mítica criada pela poesia. Estas figuras remetem para a viagem, para um mar que conduz a ilhas de prazer ou a portos seguros.

A maior parte das caixas desvendam memórias menos pacificadoras, contêm uma amálgama de ruínas: pedaços de objectos devastados, calhaus, estilhaços de espelhos, fragmentos ilegíveis de um passado que desconhecemos. Outras ainda transportam-nos para oceanos de perigos e batalhas, onde se inscrevem referências históricas alusivas a guerras e naufrágios.

Não é apenas “Under the surface” que nos revela tesouros submersos, cada uma e, no seu conjunto, todas estas caixas e telas são “flashes” de uma narrativa maior, em que individual e colectivo, mito e História, ficção e realidade, morte e memória se entrelaçam em vida habitada por sonhos e pesadelos, corpos doces e destroços, barcos de viajantes-poetas e navios de guerra, muitas interrogações e algumas certezas.


EXPOSIÇÃO A VISITAR NA GALERIA RATTON, Rua Academia das Ciências, 2C, em Lisboa


(Agradecemos que a Directora da Galeria Ratton tenha autorizado a divulgação aqui destes elementos: texto supra e imagens infra.)