11.3.09

uma experiência de pensamento (continuação)


Vamos supor que a experiência de pensamento ontem aqui ventilada [durante quinze dias consecutivos não consultar o correio electrónico, a ver no que dá] é realizada, não apenas por mim, mas por um significativo número de pessoas, constituindo uma amostra representativa da população residente em Portugal. Poderíamos, então, considerar várias categorias e apurar que percentagem de experimentadores cairia em cada uma dessas categorias. Segue-se uma lista de categorias possíveis, de acordo com o que cada um entenderia seriam para si as consequências daquela aventura. Vejamos.
Teríamos os que já se viam despedidos em consequência de tamanho desplante.
Os que seriam meramente admoestados.
Os que teriam na próxima inspecção um mero Bom, com consequências desastrosas para a sua carreira profissional, em tudo o resto brilhante.
Os que se imaginam a trabalhar melhor do que nunca, afastados de desvios, tentações, disparates ou meras minudências gastadoras de tempo.
Os que fariam batota, lendo o seu correio electrónico atenta e pontualmente, mas não respondendo a mensagem nenhuma e, cuidadosamente, recusando todos os avisos de recepção.
Os que criariam várias contas-fantasma de correio electrónico e enviariam mensagens de si para si com segredos tamanhos inventados na vigésima quinta hora, para compensarem o vício da sensação de comunicação universal contínua.
Em vez dos habituais “não sabe/não responde”, e até dos menos habituais “não sabe mas responde na mesma”, teríamos aqueles que simplesmente não sabem o que é correio electrónico.
E ainda os que não sabem o que é uma experiência de pensamento.
Bem como os que não sabem sequer o que é o pensamento.
E, até, os que não sabem que o pensamento é muito mais ágil do que o correio electrónico.