31.3.09

um alegado país


Procurador investiga alegadas pressões do director do Eurojust no caso Freeport.


Enquanto é relativamente simples provar a veracidade de uma proposição particular afirmativa, como "Alguns, pelo menos um, dos cabelos na tua cabeça são pretos", desde que ela seja verdadeira, porque basta encontrar um desses cabelos pretos - é, pelo contrário, virtualmente impossível provar a veracidade de uma proposição universal negativa, como "Nenhum grão de areia é exactamente redondo", mesmo que ela seja rigorosamente verdadeira, porque para fornecer essa prova seria necessário inspeccionar todos os grãos de areia e, para cada um deles, mostrar não ser ele redondo.
É nesta assimetria lógica que jogam os caluniadores de figuras públicas - figuras que, numa terra de invejosos, como é a nossa, ardem como palha no Verão. Desde que eu alegue que comprei o teu inimigo, está visto e provado em todos os priorados do mundo que o teu inimigo foi comprado. Ele terá de provar a sua inocência, mesmo que isso seja praticamente impossível, como mostra a pura lógica. Por ter de provar que nenhuma das moedas existentes à face da terra passou alguma vez ilegitimamente pelo seu bolso. E, em acrescento, se alguém exigir que as alegações postas a público sejam fundamentadas por quem de direito, diremos, para não esmorecer a campanha, que estão a pressionar as autoridades. Alegadamente, claro. E, para, aos olhos de alguns, dar credibilidade à acusação, basta poder dizer que o acusado passou, em algum momento da sua vida, ao alcance do cheiro do perfume de algum antigo governante socialista. Porque, claro, quem os cheira não é boa gente.
Isto é o paraíso dos imbecis: porque para discutir estes temas basta ter cursado o ensino pré-primário, mesmo que se escreva nos jornais, fale na TV, ou se edite um blogue. Se o debate fosse outro, por exemplo como se há-de governar o país nestes tempos de crise de paradigma, já se notaria mais facilmente como é esquelética a estrutura intelectual dos debatedores. Assim, deste modo, por esta arte, podemos viver, antes, num alegado país, e fazer de conta que temos realmente uma pátria.