1.3.09

"Para que serve o congresso de um partido?"


O sr. Fernandes escreve, com este título, um editorial na edição da passada sexta-feira do Público. Tema: o congresso do PS. O texto é tão rigoroso como o preço de capa estampado nessa mesma edição. Vejamos.
O sr. Fernandes diz que o congresso do PS não se compara às convenções dos partidos americanos, porque, tendo o mediatismo, não tem o debate prévio vivo e detalhado. O sr. Fernandes é um aldrabão: também nos States há campanhas com muito e com pouco debate prévio. Frequentemente, na recondução de um candidato, por ocasião de um segundo mandato, o debate é virtualmente nulo. Quando se tratou de escolher Sócrates ou Alegre, houve debate de qualidade. Porque havia diferenças postas como alternativas.
O sr. Fernandes gostaria que o PS estivesse profundamente dividido acerca de quem propor para próximo primeiro-ministro. Por isso lamenta o "unanimismo" em torno do líder. Mas essa divisão que tanto gozo daria ao sr. Fernandes - simplesmente não é o caso. Isso não devia autorizar o sr. Fernandes a ser míope. Voltará a haver debate quando houver verdadeira escolha, o que acontece nas mudanças de ciclo. Isso é que é natural. O que não seria natural seria que o partido de governo estivesse sempre, enquanto governa, com angústias existenciais e hesitações acerca do que fazer. Naturalmente, estando a governar, tem de se concentrar em cumprir o seu programa de governo. Que, neste caso, foi o próprio programa com que o PS se apresentou às eleições.
O sr. Fernandes também repete, com falinhas mais mansas do que Manuela, o argumento proto-fascista de que Sócrates devia ter faltado ao congresso do seu partido para ir à cimeira de Bruxelas. Navegando na miopia anti-partidos, esquece-se de indicar onde há democracia sem partidos. (Preferirá sovietes?) Manuela não percebe nada de filosofia política, pelo que se calhar nem se apercebe da gravidade do que disse. O sr. Fernandes, que é um ideólogo, tem outras obrigações. Por isso temos de temer que o seu modo de proto-fascismo seja consciente – o que é gravíssimo.
O sr. Fernandes diz que há medo dentro do PS. Para esse peditório já demos. Podemos antes falar do medo do director, sobre o qual provavelmente algum jornalista da redacção do Público poderia ter elaborado nos tempos de “dispensas” massivas. Mas isso seria entrar em casa do sr. Fernandes, coisa que nos arrepia só de imaginar.
O sr. Fernandes ainda tem mais umas pérolas, mas daquelas que vão bem no Twitter, não num jornal que costumava ser de referência. Deixemos essas de lado. O que vem acima já basta para mostrar o calibre do sr. Fernandes. Apesar de tudo, não chamemos sofista ao sr. Fernandes. Não há razão para estar agora a ofender os sofistas.

[Comissão Nacional do PS: João Cravinho sai, Santos Silva e Silva Pereira sobem na lista de Sócrates.Mulheres são 38 por cento.]