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4.1.11

passo a citar


Nuno Serra:
As recentes declarações de Cavaco Silva sobre o BPN fazem lembrar um adolescente que, para distrair as atenções em relação aos amigos que espatifaram uma bicicleta (na qual também pedalou), acusa insistentemente o senhor da oficina pelo facto de este a não conseguir reparar.
No Ladrões de Bicicletas.

14.5.10

serve a "europa" para algo?

Jorge Bateira, afinal, se calhar não estava a laborar tão no ar como alguns supunham, quando escreveu:
Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda (com o apoio tácito da França), têm uma alternativa. Negociar em segredo uma posição colectiva e, daqui a uns meses, confrontar colectivamente Angela Merkel (entretanto enfraquecida politicamente) com a seguinte escolha:
(1) regresso ao projecto, prematuramente abandonado, de relançamento coordenado do crescimento europeu pelo investimento público e por medidas de apoio social (a financiar pela 'economia da droga', pelo sector financeiro e por uma taxa sobre as suas transacções especulativas, por tributação altamente progressiva e, como agora se decidiu, por monetarização da dívida pelo BCE); reforço substancial do orçamento comunitário e revisão do Tratado de Lisboa para expurgar a ‘constituição económica’ da sua implícita ideologia monetarista, ou

... (2) saída simultânea dos quatro países com reposição das respectivas moedas, acompanhada de reestruturação unilateral das respectivas dívidas, nacionalização da banca, controlo rigoroso dos movimentos de capitais de curto prazo … e, em consequência, falência dos bancos que detêm dívida destes países, com destaque para os bancos alemães.


13.5.10

europas há muitas (precisamos de mais esquerda europeísta)

Jorge Bateira, no Ladrões de Bicicletas:
«Antes que seja tarde, a UE tem de pensar o impensável: a subordinação da finança ao poder político e, rapidamente, dar mais passos em direcção ao federalismo. Menos do que isto não chega.»
Um conselho: ler na íntegra: Os especuladores são europeístas?

(O ponto é este: para estar na UE é preciso estar disposto a batalhas políticas pesadas, procurando aliados, juntando pequenas forças que incomodem os grandes, desafiando as situações que nos são inconvenientes, construindo alternativas. O governo de Portugal joga-se na UE, em grande parte. É assim que é preciso pensar. Posso até não estar de acordo com tudo o que diz o Jorge Bateira, que, a meu ver, comete o erro de isolar a questão económica de outras políticas. Mas, certo certo, é que é preciso encarar a frente europeia como a nossa batalha nacional mais importante. E, para isso, precisamos de mais esquerda europeísta; para isso, a esquerda que se limita a estar contra a UE - é inútil. Inútil, precisamente.)

9.4.10

isto não vai acabar bem


Jorge Bateira, no Ladrões de Bicicletas:
Também eu estou convencido (por muito que isso me desagrade) que esta crise vai ter graves consequências sobre a 'moeda única', ou seja, sobre a vida de todos nós. Por isso, entendo que as esquerdas devem dar início a um diálogo tendo em vista preparar uma alternativa política e um programa de governo à altura do que nos espera. Esse passo significaria um grande salto qualitativo na vida política portuguesa e revelaria um grande sentido de responsabilidade que a generalidade dos cidadãos saberia valorizar. Será isto uma miragem?
Integral: "Isto não vai acabar bem".

7.1.10

consensos e opções (entre o velho do Restelo e o Adamastor)



Ricardo Paes Mamede, no Ladrões de Bicicletas, publica hoje uma posta intitulada Não queremos consensos, queremos clareza nas opções. Devo anotar que discordo da alternativa: precisamos de consensos, tanto como precisamos de opções claras. Os consensos em algumas matérias limpam o terreno para que nos possamos focar nas diferenças relevantes, clarificando-as, depurando-as, dando-lhes o sentido que deve ter a política como arte de viver em comum: fazer escolhas colectivas. O que os consensos têm de ser é tão claros como as opções, em vez de nuvens de fumo para nos não vermos uns aos outros.
Contudo, descontada esta divergência, quero assinalar o interesse do texto de Paes Mamede. Para abrir o apetite:
O Governo deveria ser transparente e convincente na sua opção pelas grandes obras (TGV, aeroporto, auto-estradas) – incluindo no esclarecimento da aparente discrepância entre a defesa que tem feito do investimento público e os níveis de execução previstos a este nível. A oposição de Direita deveria deixar claro, justificando devidamente as suas posições, (1) se discorda que o investimento público é indispensável nesta fase, (2) se considera que os grandes investimentos previstos pelo governo deveriam ser cancelados (o que nunca se atreveu a fazer) e (3) se defende que a situação orçamental é tão crítica que exige um programa de ajustamento (não obstante as implicações dessa opção em termos de desemprego) e qual a natureza desse ajustamento. A oposição de Esquerda, que tem deixado clara a defesa do reforço do investimento público na fase actual, deveria esclarecer se se revê ou não nalgum programa de exigência no que toca às despesas e receitas do Estado (reconhecendo que as más decisões nestes domínios contribuem para acelerar a destruição de um Estado capaz de intervir no padrão de desenvolvimento económico e social).

Ler tudo em Não queremos consensos, queremos clareza nas opções.

28.12.09

coisas que devem ser lidas



Castro Caldas no Ladrões de Bicicletas:
Há uma espécie de “liberalismo”, ensinado sobretudo nos cursos de Economia, que é ofensivo para o liberalismo. Há quem pense, por exemplo, que um contrato aceite por ambas as partes é necessariamente um contrato legítimo e que isso é uma ideia muito liberal.
Comecemos por um caso extremo: como sabemos existe um mercado de orgãos humanos; muitas vezes estes orgãos são vendidos por pessoas em estado de necessidade; estes contratos são ilegítimos (e proibidos pela lei).
Passemos a um caso menos extremo: o contrato de trabalho obriga-me...

Continuar a ler: O liberalismo precisa de se defender do “liberalismo”.

17.12.09

ideias socialistas / há debates possíveis




Há um coro de cidadãos a clamar pela evidência da impossibilidade. Da impossibilidade de um acordo político entre o PS e os que se julgam a esquerda da esquerda. Um acordo que abrisse um campo de governação responsável em toda a latitude desse termo. Certo, há um elevado grau de dificuldade nesse caminho, ninguém duvida. Que a prova do pudim só pode ser feita por uma via - tentando - é o meu ponto. Para isso reclamar-se-ia, em vez da retórica do concurso "a ver quem é mais vermelho", um outro concurso mais produtivo: ideias socialistas que não sejam a reedição de velhos fracassos, quem tem?

Pedro Bingre escreveu no Opinião Socialista (e eu fui pescar ao Ladrões de Bicicletas):

«Contraste-se este nosso regime comercial com o dos Países Baixos; o mercado imobiliário holandês é dos que mais exemplarmente executa a retenção pública de mais-valias urbanísticas. Mesmo que se encontrem contíguos aos perímetros urbanos, os solos agrícolas holandeses são transaccionados a preço estritamente agrícola, posto que qualquer comprador privado sabe de antemão que futuros acréscimos de valor do solo, produzidos por via de loteamentos, reverterão para o erário público. Além de reter as mais-valias urbanísticas, o Estado Holandês oferece também para arrendamento público mais de 30% do parque habitacional do país — fórmula que além de facilitar a mobilidade laboral e assegurar residência a preço justo para toda a população, dificulta sobremaneira o crescimento de bolhas imobiliárias.»

É destas coisas que falo quando falo da coligação negativa e do seu espelho.

[Produto A Regra do Jogo]

26.11.09

o Estado como empregador de última instância



«O combate ao desemprego e às suas consequências tem de ser a prioridade orçamental. Nenhum desempregado pode estar sem rendimento, nem que para isto seja preciso puxar pela imaginação política e encontrar forma de fazer do Estado o empregador de última instância» - lê-se, propõe-se, aqui.

Como ilustração do conceito, João Rodrigues aponta para um artigo cuja versão integral não estou a conseguir descarregar, mas em cujo resumo se faz uma ligação directa entre a ideia do "Estado como empregador de última instância" e a ideia do "desemprego zero". A ligação entre essas duas ideias é dada, nesse resumo, pela possibilidade de o Estado garantir uma taxa de desemprego zero, definindo-se "desemprego zero" assim: todos os que estão prontos, dispostos e capazes de trabalhar pelo salário que se oferece terão um emprego; "apenas" aqueles que não querem (ou não podem) trabalhar com os salários oferecidos ficariam sem trabalho (e esses normalmente já não são contados como desempregados).

Além da confusão que me faz, como ideia de sociedade, pensar no Estado como empregador de última instância - mas, manifestamente, isso não faz confusão a toda a gente -, esta proposta deixa-me outra dúvida. Aquela noção de desemprego zero faz-me lembrar aquelas teses segundo as quais quem quer trabalhar apanha o que há, seja o que for. Segundo essas teses, só merece ser realmente considerado desempregado quem não se recusa a vender a sua força de trabalho nas condições que o mercado permite, sejam elas quais forem. Quem é esquisito e não vende a sua força de trabalho a qualquer preço, paga as favas: nomeadamente, não tendo direito a protecção no desemprego. Ao mesmo tempo, essas teses convivem mal com "distorções" na formação dos salários, por exemplo com salários mínimos.

Será que a proposta de João Rodrigues passa por aceitar esta noção de desemprego zero? Estranho, porque isso seria a absoluta mercantilização do humano trabalhador, esquecendo que na condição de trabalhador (empregado ou desempregado) não conta somente a possibilidade de ser "factor de produção". Nem tudo aquilo que é "economicamente" aceitável é aceitável, humanamente. Acredito piamente que JR pensa como eu neste ponto. Deve, então, haver qualquer coisa que não percebi - e sobre isso gostava de ser esclarecido. Ou talvez não: talvez até haja experiências históricas concretas do verdadeiro significado do "Estado como empregador em última instância". São as experiências históricas do "eles fingem que nos pagam, nos fingimos que trabalhamos". Safa! como dizia o outro.

[Um produto A Regra do Jogo]


25.11.09

uma pergunta a dois ilustres Ladrões de Bicicletas



Médicos vão receber mais 750 euros para ir para o interior, noticia o jornal i.

E acrescenta: «Os médicos que queiram ir trabalhar para o interior vão receber uma bolsa mensal de 750 euros, durante os anos de formação da especialidade que se seguem à faculdade (internato). Em troca, comprometem-se a ficar nos hospitais e centros de saúde que se ressentem da falta de profissionais pelo mesmo tempo que dura a formação (entre cinco e sete anos, consoante a especialidade médica). Caso contrário, têm de devolver o dinheiro. (...) Este incentivo representa um aumento de 69% sobre o ordenado base de um interno a partir do segundo ano de formação.»

A propósito disto, disto, disto , disto e disto, gostava, para continuar um debate que me parece útil, de perguntar ao João Rodrigues e ao José Castro Caldas, dois ilustres Ladrões de Bicicletas, o seguinte: esta medida, acima mencionada, também é mercantilização da saúde?


16.11.09

predadores?! (ou: descer aos infernos sem perder o pé)



João Rodrigues (JR), do Ladrões de Bicicletas, a propósito do fim das taxas moderadoras no internamento e na cirurgia de ambulatório, escreve que "agora só falta acabar com as outras taxas no SNS. Eliminar os mecanismos que tomam os cidadãos por predadores. Romper com a herança liberal de Correia de Campos".
Um ponto é concordar que foi tolice do governo do PS introduzir "taxas moderadoras" em "consumos" que não são susceptíveis de serem moderados, pelo menos por vontade própria de quem paga. E aplaudir a correcção.
Outro ponto, de natureza mais geral, é o ataque de JR a todas as taxas moderadoras com base numa certa metafísica da natureza humana. JR parece acreditar que as pessoas são naturalmente cooperantes, cuidadosas com o bem público, atentas às consequências dos seus actos no plano dos mecanismos colectivos, altruístas e esclarecidas acerca do próprio funcionamento do altruísmo. JR parece acreditar que quem não tenha essa visão da "essência" dos indivíduos em sociedade só pode estar a tratar os cidadãos como predadores.
Também sou dos que pensam que os cidadãos não devem ser basicamente tratados como máquinas de estímulos, disponíveis para as receitas de "incentivos" que os economistas gostam de cozinhar. Também sou dos que acreditam que a melhor forma de avançar na melhoria dos laços sociais é investir nos laços sociais enquanto tal, enquanto estrutura de significados. Também sou dos que não acreditam que tudo isso se resuma a prémios e castigos. Contudo, considero perigosíssima a ingenuidade de JR: os mecanismos colectivos são, realmente, muito sensíveis aos verdadeiros predadores. Tal como são sensíveis aos que simplesmente não param para pensar nas consequências das suas acções. Bem como aos que simplesmente não compreendem os efeitos indesejáveis, em termos agregados, de muitas acções individuais aparentemente inócuas.
Não sei bem qual seja a origem da aparente desvalorização destas dificuldades por parte de JR. Será JR um racionalista extremo que acha que os indivíduos puxam pela cabeça até compreenderem o que fazer por puro cálculo intelectual? Será JR um metafísico da natureza humana, que vê as pessoas como naturalmente, ou essencialmente, boas e altruístas? Não sei, mas sinto uma curiosidade crescente pela sistemática abordagem metafísica de certa esquerda ao problema da natureza humana em sociedade. Eu acredito que mecanismos tão imperfeitos como as taxas moderadoras são importantes dentro de um realismo moderado acerca da forma como funcionamos em colectivos: mesmo que sejamos razoavelmente altruístas, e que sejamos determinados mais por valores e por uma genuína implicação na relação social do que por incentivos, precisamos de "sinais de trânsito". Precisamos de marcas que nos chamem a atenção para o significado último de certos actos, cujas consequências não são directas nem imediatas. Precisamos de alertas.
Reflectir nisto é algo que só interessa a quem o bem comum e as suas ferramentas mereçam cuidado. Acredito piamente que JR está nesse grupo. Eu também estou. Mas bato-me para reduzir a carga metafísica de certos pressupostos. E não estou disposto a ser tratado como neoliberal por causa disso. Porque verdadeiramente desastroso para a promoção do bem comum seria transformá-lo numa piedosa abstracção iluminada por uma qualquer metafísica apressada acerca da natureza humana. Especialmente se essa metafísica apressada servir para condenar a priori certas possibilidades de organização colectiva.

(produto A Regra do Jogo)