24.7.13

parabéns, Paulo Portas !



O CDS pode revelar-se, a prazo, o grande vencedor da recente crise política. Mantenho que isso, a acontecer, terá custado o resto da honra pessoal de Paulo Portas, mas em política dura esse assunto pode ser irrelevante. Vou tentar explicar-me.

Se o governo tiver algum engenho para isso, a crise política recente pode ser usada junto da troika para explicar que algumas mudanças de rumo são indispensáveis para evitar o fracasso completo do programa de "ajustamento". Ou seja, o governo pode explicar aos políticos da UE e do FMI que já nada é seguro neste país (nem o Presidente da República) e que, para evitar novas crises, a única solução é mostrar algumas mudanças que possam ser apresentadas como motivo para nova esperança e aguentem o eleitorado. A Alemanha, depois das eleições de Setembro, estará provavelmente mais à vontade para algumas novidades e os políticos de direita que mandam em quase tudo o que conta nas instituições europeias tenderão a fazer alguma coisa para evitar que os vejamos como incapazes de nos dar mais do que nova dose de um Barroso sempre sempre à procura de emprego. Vão mudar o essencial? Não, não vão, mas podem dar alguns rebuçados que criem a ideia, até às eleições, de que o pior já passou (mesmo que isso seja falso).
Cá dentro, o CDS pode apresentar a sua versão da história: foi a profunda renovação da coligação e a remodelação do governo que garantiram a mudança para melhor. Se Portas não tivesse batido o pé, teria continuado tudo na mesma. Se, contra toda a lógica, a troika achar que não há problema em deixar a direita perder as eleições, o CDS poderá não ganhar muito, mas também perdeu pouco: os restos da aparência de confiabilidade do dr. Portas.

Entretanto, se problemas podem vir dos novos ministros, esses problemas tenderão a cair para o lado do PSD.
Pires de Lima, que, goste-se ou não dele, conhece alguma coisa da vida real, não é um radical e tenderá a mostrar algumas melhorias relativamente ao desempenho do seu antecessor, um brilharete para que Álvaro contribuiu muito.
Já Rui Machete, embora relativamente escondido nos Negócios Estrangeiros, onde pode fazer por só ser visto ao longe, arrisca fazer regressar as novelas do BPN e do BPP ao topo da actualidade política. Se o seu grau de coragem e verticalidade política continuar a ser o mesmo que demonstrou quando era vice-PM do Bloco Central e teve de conviver com a então fresca chegada de Cavaco Silva à liderança partidária, nomeadamente no episódio da tentativa cavaquista para adiar a assinatura do tratado de adesão à CEE por mero interesse pessoal/partidário, tudo se pode esperar.
Moreira da Silva pode surpreender, tanto pela positiva como pela negativa. Ambicioso, com a força de um aparelhista ilustrado, pode ser um bom governante nas suas áreas de competência específica e, no entanto, "borrar a escrita" com um excessivo interesse pelas guerras internas do PSD. E elas serão muitas daqui para a frente, com a ala passista reanimada pelos tiros no pé dos cavaquistas nestes últimos tempos.
Já a Ministra das Finanças, mais uma aquisição recente da lavra do PSD, está cada vez mais enredada na embrulhada política em que se meteu, sendo cada vez mais evidente para mais gente que andou muito longe da verdade quando tentou lavar as mãos do caso dos contratos swap e, para tanto, não encontrou melhor do que desrespeitar gravemente o parlamento.

Feitas as contas, se as novas circunstâncias trouxerem algum suplemento de alma ao governo, o CDS poderá explicar que isso só se tornou possível graças às piruetas de Portas. E, sim, Portas faz piruetas, mas é a vida. Por tudo isto digo que o CDS pode revelar-se, a prazo, o grande vencedor da recente crise política.