O PS, sob a direcção de Seguro, aguentou a pressão e não assinou nenhum acordo de salvação do PSD e do CDS. Bastou-lhe, para isso, reafirmar o que tem vindo a propor, quer institucionalmente quer em público. Que a maioria governamental não tenha tido rins para pegar nas propostas do PS tem um significado: queriam o PS apenas para muleta. Não espanta. A forma como Seguro comunicou ao país a situação foi (apenas li, não ouvi a comunicação) equilibrada e convicta. O PS teve a sabedoria táctica para, no período de negociação, não deixar estabilizar nenhuma antevisão do que faria afinal: deu, assim, credibilidade à sua rejeição do acordo, porque fez crer que, fosse outra a posição das outras partes negociais, poderia ter assinado.
Fico, agora, à espera dos que fizeram previsões catastróficas. Dos que previram que o PS não votaria a moção de censura dos melancias (votou). Dos que previram que o PS entregaria o ouro ao bandido a pretexto da "salvação nacional" (não entregou). Refiro-me, não tanto aos comentadores, mas aos partidos políticos que já ensaiavam nova manobra da coligação negativa com os partidos da direita. Esses, se tivessem alguma decência política, não entrariam agora em discursos de encobrimento. Encobrimento de quê, perguntarão. Infelizmente, a esquerda da esquerda vai agora entrar em tentativa de encobrimento de que desejaram ver o PS nos braços da direita, porque só isso os salvaria do que mais temem: ver o PS assumir o seu papel de alternativa.
Tudo isto, para mim, não significa que o PS esteja já em condições de ser essa alternativa. Tem de fazer mais. Visar mais longe. Lutar para merecer uma base social de apoio alargada. E, além do mais, aprofundar o espaço de convergência interna para se abalançar às lutas nacionais, como opinei anteriormente.