O até agora bispo do Porto, D. Manuel Clemente, novo patriarca de Lisboa, não é um homem qualquer. Homem preparado, homem de cultura, podemos exigir dele o melhor testemunho do que vale a Igreja Católica hoje em Portugal.
Só que, quanto maior a expectativa, maior a decepção possível. Algumas declarações mais ou menos soltas do novo patriarca de Lisboa, um lugar sempre de referência na Igreja portuguesa (embora não seja o seu chefe, como alguns pensam), merecem preocupação. Vir, num momento político como este, dar a ideia de que está a defender uma determinada fórmula governativa (em concreto, o actual governo, ou a actual maioria) é, no mínimo, pouco prudente (se deu a entender o que não queria realmente dizer) e, no máximo (se estava conscientemente a pronunciar-se a favor de uma determinada saída e contra outras, como eleições antecipadas), um sinal grave de enviesamento do seu múnus.
Esperemos para ver. Esperemos que se dê ao respeito quem deve ser respeitado, para não termos de concordar com os que, da direita, trataram logo de tentar apropriar-se de D. Manuel Clemente (seja pela presença impositiva dos dignitários da República à procura de fotografia em cenário bento, seja pela palavra de comentador muito embrenhado em tribunais eclesiásticos por interesse próprio).
O essencial é que me importa; coisas do cerimonial, que podiam evoluir, como deixar de tratar o senhor por D. Manuel III (logo nos Jerónimos), são sinais, mas não são o que me escandaliza. O que me escandalizaria seria que o patriarca de Lisboa usasse de uma suposta candura para fazer jeitos políticos aqui ou ali, tornando-se um digno sucessor de quem não merece ter propriamente sucessores (e refiro-me aqui àquele cardeal recordado na toponímia ali para os lados do parque Eduardo VII, em Lisboa).
Adenda: não é "novo" quem quer, mas quem sabe.
Não resisto a colocar aqui o comentário do Miguel Marujo, no Facebook:
«O novo Papa chegou e apresentou-se como Francisco, o novo
patriarca entra e recupera um título com dezenas (centenas?) de anos: D. Manuel
III, aquele que antes todos chamavam de Clemente.»