A edição de ontem da Visão publica um artigo sobre as últimas movimentações no PS. Intitula-se “Qual é a pressa… dos banqueiros?”. Esse artigo, que me dispenso de comentar em geral, tem um último parágrafo que parece servir para convencer o leitor de que houve investigação histórica naquele trabalho. Passo a citar:
Zanga com 30 anos. António Costa e Seguro só convergem no nome próprio e na filiação partidária. Tudo o resto os separa desde que, em 1984, tiveram uma zanga, na JS. António Costa tinha apoiado o ex-Secretariado, um grupo de dirigentes que se opunha ao então líder Mário Soares. Nessa altura, o velho fundador do PS lançou-lhe uma fatwa: “Trocaste uma carreira política por uma assinatura.” E vetou a sua ascensão à liderança da JS, para substituir Margarida Marques. O soarista António Campos, o homem do aparelho, rapidamente “inventou” um então obscuro líder de uma associação de estudantes, José Apolinário, para a “jota”. Inesperadamente, Seguro virou as costas… a Costa. E alinhou com o poder interno, vindo, logo a seguir, a assumir o apetecido cargo de presidente do CNJ (Conselho Nacional de Juventude). António Costa nunca lhe perdoou. O ajuste de contas pode estar por meses.
Pois, tenho uma triste notícia para os dois autores deste texto, Sara Rodrigues e Filipe Luís. A notícia é esta: se pensavam que nos convenciam que tinham feito investigação histórica para escrever aquele parágrafo… pois, não; não propriamente. Aquele parágrafo tem muitos dados certos: datas certas, pessoas com nomes correctamente escritos, nomeadamente. Mas, quanto ao conhecimento do que realmente se passou naquela época, a lógica política geral daqueles anos, quem deu a mão a quem para fazer o quê, quem traiu quem e buscando que recompensa: falta claramente uma compreensão de tudo isso. Foi assim como se tivessem pegado numa grande e complicada família, tivessem assassinado (sem método) metade dos homens e metade das mulheres, tendo depois casado os tios com os tios e as primas com as primas, outra vez ao calhas, e tivessem apresentado o resultado como um retrato a sépia da infausta história da tribo. A história, manifestamente, foi soprada por alguém (um ou mais) a quem interessa que se saibam algumas coisas mas se ignorem outras. Estou perfeitamente à vontade a escrever isto, porque, da história realmente acontecida, que eu vivi de muito perto, o que se ficou menos a rir fui eu (politicamente falando, apenas, na medida em que continuei sempre a rir-me com gosto). Eu, para não falar demais, resumiria assim: aquele parágrafo dá uma ideia bastante aproximada da noção que AJS tem da lealdade - mas dizer só isso é parcial.
Claro, como a ninguém interessa muito por que é que Seguro não ama Costa e Costa não ama Seguro (porque realmente não é essa a questão), ninguém se vai aborrecer muito com a trapalhada que vossas mercês escreveram. Ficam muito contentes por terem cumprido o vosso ponto, a saber, chover ainda outra vez no molhado de que “isto é tudo guerras de jotas”. Eu, pelo meu lado, que sou suficientemente velho para saber que o vosso “parágrafo histórico” é um conto da carochinha misturada com o lobo mau e o gato das botas, vou passar a olhar para qualquer texto vosso com um grão de cepticismo. Digamos, com um tanto mais de confiança da que depositaria em fascículos antigos de Corín Tellado se me quisessem convencer que se tratava de tomos da história da Venezuela.