Na sua crónica habitual de Domingo no Público, Frei Bento Domingues, O.P. ("O.P." quer dizer "Ordem dos Pregadores", mais conhecidos como Dominicanos), produziu ontem uma reflexão sobre a resignação de Bento XVI e sobre como deveria ser entendido o papado como parte dessa comunidade humana que é a Igreja Católica. Trata-se de um artigo com o título "Venha o novo Papa."
O autor usa palavras de Bento XVI para balizar a questão: em que devem pensar os eleitores quando se puserem a escolher o novo Papa. E as palavras são estas: "Procurar alguém que perceba o ritmo deste tempo de rápidas mudanças e seja capaz de identificar quais são as questões, de grande relevância para a vida da fé, no governo da barca de S. Pedro e no anúncio do Evangelho." Depois, além da questão "programática", coloca a questão das condições pessoais e institucionais para o exercício do cargo, escrevendo: "o Papa, bispo de Roma, não deveria poder ser escolhido por tempo indeterminado, nem ultrapassar a idade de 75 anos, aquela que está marcada para todos os bispos".
Temos, portanto, uma reflexão de dentro da Igreja que é feita em termos perfeitamente compreensíveis por uma pessoa não participante dessa mesma igreja, que é o meu caso. Acho saudável que, desde o lado de fora, se possa olhar para dentro dessa comunidade e compreender o que dizem os que estão a procurar uma saída para esta situação.
Entretanto, queria chamar a vossa atenção para a frase final deste texto de Frei Bento Domingues: "A Igreja não pode ser uma monarquia absolutista e vitalícia." Completamente de acordo. Pena que os mais papistas que o papa costumem tratar como vozes do diabo quem quer que diga - ou seja suspeito de dizer - isso que Frei Bento Domingues O.P. assim com meridiana clareza fez estampar nas páginas do Público.