21.9.12

o que é uma crise política para Cavaco?


Cavaco Silva considera “ultrapassada” hipótese de crise política.

Se para o actual PR a crise são os arrufos de Paulo Portas, talvez possa dizer que passou a tempestade num copo de água. Tudo graças ao "comité central da coligação": tal como na antiga União Soviética, em vez de serem os órgãos de Estado a deter verdadeiramente o poder, são comités, desenhados fora do Estado para acomodar a elite da elite partidária, que definem o rumo. Em vez de se tratar de que o governo funcione (reúna, discuta e decida o que compete decidir) e o parlamento legisle e controle, e nesse regular funcionamento das instituições a maioria se exerça e faça o seu trabalho, cria-se um monstrinho inter-partidário para tomar conta dos ministros e dos deputados. Um politburo à PPC.

Se era essa crise que mencionava, Cavaco tem razão: o arrufo de Portas terá passado. Embora à custa de uma incontornável vitória do CDS: se foi preciso fazer esta complicada manobra para melhorar a coordenação entre os parceiros de coligação, é porque essa coordenação antes estava mal. E, então, o CDS tinha razão. E levou a sua avante. Embora sem que isso tenha muito a ver com o que realmente preocupa o país.

De qualquer modo, mal vai o Presidente se pensa que a crise é essencialmente feita de pó da maquilhagem de Paulo Portas. A verdadeira crise política é o corte entre os cidadãos e os órgãos de soberania - e essa está para durar. Cavaco, ao convocar deste modo o Conselho de Estado, criou a expectativa de poder mudar o rumo. Se, da reunião de hoje, não obtiver mais do que magros resultados, não escapará também ele a essa crise. Se, pelo contrário, for o Presidente e o Conselho de Estado a conseguirem mudar o rumo da política anunciada, Passos Coelho terá sido a vítima de uma mudança de regime: o primeiro-ministro ficará reduzido, como em França, a um impedido do Presidente. O governo terá mudado de palácio e, nos próximos pacotes de medidas, o "povo" pedirá que o Conselho de Estado reúna de novo e volte a emendar a mão de PPC.

O anúncio da ultrapassagem do cenário de crise pode, pois, ser exagerado.