17.9.12

no que vai de Setembro.





No que vai de Setembro, o primeiro-ministro de Portugal aviou uma receita sem ler a posologia - e vai ter a oportunidade, oferecida pelo Presidente da República, de perceber o que isso significa. (Não é de excluir que Cavaco Silva tenha convidado Vítor Gaspar para dar explicações no Conselho de Estado para garantir que Passos Coelho saiba realmente o que se está a passar: "eles" querem ver o PM ouvir a história bem contada, para saberem que ele a ouviu contar pelo menos uma vez. Não acredito que o PR simplesmente tenha convidado Gaspar por este ser melhor a usar o powerpoint do que PPC, quando o próprio PPC estará no Conselho de Estado. De qualquer modo, PPC transforma-se assim, oficialmente, num pau-mandado do ministro das finanças.)
No que vai de Setembro, o povo saiu à rua: mesmo o povo que deu um crédito de confiança a este governo está cansado da ligeireza com que o PM apresenta as facadas como se fossem uma espécie de acupuntura pós-moderna. (Esse facto, notável, de ter ido meio milhão para a rua tugir e mugir contra o estado a que isto chegou, não torna menos grave o seguinte facto: muitos dizem que há alternativas a esta austeridade cega, mas nenhuma força política ainda apresentou com clareza, e contas, um caminho alternativo. Se isso não é muito grave no caso do BE e do PCP, no caso do PS está chegada a hora de demonstrar como se pode ter um rigor progressista, em vez do despesismo que só enche os bolsos a alguns, e em vez de querermos viver com o dinheiro dos outros e ao mesmo tempo querermos ter uma soberania impossível.)
No que vai de Setembro, Portas abriu o jogo que vem a jogar há muito tempo: quer entrar no carrinho de este plano resultar (dirá que fez parte da solução) e ao mesmo tempo entrar no carrinho de tudo isto acabar mal (dirá que sempre alertou para os perigos de fazer as coisas desta maneira). Confirma-se aquilo que se sabe há muito tempo: Portas é um actor brilhante a fazer figura de homem de Estado, mas isso é só pose, porque realmente está sempre a fazer contas à sua popularidade e aos votos que possa ganhar na eleição seguinte. É pornográfico que PSD e CDS nos governem como têm estado a governar e ainda por cima nos queiram entreter com o seu processo de contabilidade interna.
No que vai de Setembro, os empresários que merecem a designação (e não os patrões que andam sempre a tentar roubar os trabalhadores) dizem que estar a tirar mais a quem trabalha só dá cabo das empresas que vivem do bom desempenho de quem lhes dá vida. E alguns até dizem (ver notícia na foto sobre o sector do calçado), lá por Milão onde vendem como melhores entre os melhores, que pensam como "devolver" aos trabalhadores aquilo que os gasparzinhos querem roubar ao trabalho para entregar ao capital.
No que vai de Setembro, o país está quente e não vai ser fácil resfriar as cabeças só com declarações de circunstância.