Hoje é dia de greve geral. Apenas duas breves reflexões sobre isso.
(1) O direito à greve tem de ser protegido. As múltiplas formas usadas para o tentar limitar, escoradas na antipatia que muitos sentem pelos incómodos causados, são um retrocesso civilizacional. Um país desenvolvido precisa de contar com os seus trabalhadores e precisa, portanto, que eles possam expressar o seu descontentamento. Uma dinâmica positiva de desenvolvimento precisa dos trabalhadores e das suas organizações, fortes e intervenientes. Se queremos que os trabalhadores se mobilizem não podemos pensar nisso só quando se trata de pedir mais produtividade, temos de respeitar a sua expressão também quando ela é de protesto.
(2) Esta greve geral é apenas uma expressão negativa, de rejeição. É pena que se ouça pouco acerca do contributo positivo que os sindicatos estão dispostos a dar para o desenvolvimento do país. É tempo de os sindicatos serem menos "oposição" e mais "proposição". É tempo de os sindicatos serem mais claros acerca da necessidade de partilhar responsabilidades em matéria de competitividade da economia. Isso tem de vir a par de mais democracia nas empresas, de maior participação dos trabalhadores, de melhor compatibilização da vida pessoal e familiar com a vida profissional, de melhor qualidade da vida profissional. Mas isso não se alcança apenas pela via da contestação. É preciso distribuir melhor a riqueza, mas também é preciso criar mais riqueza. Os sindicatos e os trabalhadores ganhariam muito em que se compreendesse melhor como eles se esforçam nesse sentido.