O grande problema da política à portuguesa? Toda a gente pensa que os problemas são fáceis de resolver. Por isso, toda a gente acha que faria melhor, "se lá estivesse", do que quem lá está. E é sempre tudo "de caras". Quando digo "toda a gente", não digo só políticos, economistas, filósofos de serviço, comentadores encartados ou improvisados, ou banqueiros; digo, mesmo, toda a gente, incluindo qualquer comentador anónimo de qualquer jornal online. Por que é que isto é um problema? Por, na realidade, não haver problemas simples no mundo de hoje; os problemas políticos são todos complicados e complexos. Logo, estamos a enfrentar isto com a atitude colectiva errada. E, em cada turno (em cada ciclo político) alguém promove a atitude errada, por conveniência de momento, só para apanhar com os estilhaços no turno seguinte.
Se fossemos capazes de perceber que todos os problemas em cima da mesa são difíceis, podiamos agir em conformidade: dar prioridade à necessidade de encontrar os mecanismos para pensar em conjunto. A todos os níveis. Conversar para perceber o problema. Concertar para fazer o levantamento das hipóteses de saída. Negociar para construir uma via de solução, de preferência pouco a pouco e com monitorização constante de que cada um está a fazer a sua parte e de que estamos a obter os resultados pretendidos. E, obviamente, dividindo o esforço e divindo os benefícios. E preservando sempre o rosto e a palavra do outro, por mais que discordemos dele. Porque o adversário é o melhor aliado se temos de viver juntos.
Em suma: uma democracia para os nossos tempos. Coisa tão simples de dizer e, aparentemente, tão impossível de fazer. Será que as democracias só se regeneram pela ditadura ou pela guerra?