21.5.12

monumentos ao sentido de oportunidade.


Quando "sentido de oportunidade" é um palavrão muito feio.

Ler Daniel:

... tendo havido mesmo quem defendesse que vivíamos num ambiente de "asfixia democrática". Por essa altura, um grupo de jovens (e menos jovens) bloguistas chegou mesmo a organizar uma concentração em frente ao Parlamento em defesa da liberdade de imprensa, coisa nunca vista, nem nos tempos do cavaquismo, aqueles em que a pressão aos jornalistas foi, em democracia, mais sistemática.
É agora interessante observar o silêncio dessas mesmas pessoas. Fui ver a lista de promotores dessa passeata dos tempos socráticos. Deixei de fora os meros subscritores do apelo para a manifestação e os blogues coletivos que a ela se associaram. Fiquei-me pelos promotores individuais iniciais. À espera que gritassem presente por uma imprensa livre. Entre os poucos promotores estavam pessoas que o leitor pode não conhecer mas são relativamente populares na blogosfera: Adolfo Mesquita Nunes, Carlos Nunes Lopes, Vasco Campilho e Rodrigo Moita de Deus, por exemplo.
Porquê o seu silêncio? Porque alguma coisa mudou na vida do País e nas suas vidas. Adolfo Mesquita Nunes poderia ser coerente e protestar também agora. Mas entretanto tornou-se deputado do CDS. Carlos Nunes Lopes podia ter vindo de novo em defesa da liberdade de imprensa, mas agora é chefe de gabinete do secretário de Estado dos Transportes. Vasco Campilho poderia ir para a frente de São Bento defender os jornalistas dos abusos de Relvas, mas agora trabalha no Ministério do Ambiente e é um dos coordenadores do Plano Operacional de Valorização do Território. Rodrigo Moita de Deus, o mais ativo dos protestantes do passado, podia ter organizado outra concentração contra a "asfixia democrática", mas entretanto passou a ser membro do Conselho Nacional do partido de Miguel Relvas. Se em relação a José Sócrates não lhe faltaram palavras, hoje escreve: "Miguel Relvas lida com jornais e jornalistas há mais de uma década. Se fosse pessoa para fazer o que acusam já todos teríamos dado por isso. Nem teria sobrevivido até aqui." Ou seja, de indignados pela liberdade de imprensa os jovens bloguistas passaram a obedientes e silenciosos assessores, deputados e dirigentes partidários.

Integral aqui.