8.10.09

EGO * teatro * cérebro / consciência / espírito




EGO, de Mick Gordon e Paul Broks, uma peça sobre o cérebro e a mente, sobre "o que é ser um eu". O texto não é um grande texto de teatro. A interpretação não parece no seu conjunto fazer jus à gravidade do assunto, mas é suficiente (a intérprete de Alice, Catarina Lacerda, é a mais convincente). A encenação é eficaz e dá o mais possível ao texto e à problemática. Espectáculo curto, perfeito para entrar como exercício num curso de filosofia das ciências, de psicologia, de Inteligência Artificial. É conveniente ir para lá com alguma informação prévia; alimenta uma boa discussão colectiva posterior.
O problema está mesmo nos "mitos científicos e filosóficos" enraizados no texto. Fala-se de coisas que não passam de ficção científica (teleporte) como se fossem factos indiscutíveis. E são endossados todos os sofismas principais de uma visão estreita sobre o assunto, como se fossem "ciência pura". Este texto serve bem um certo "materialismo barato" sobre a mente. Claro, acho que ninguém com um módico de informação científica duvida disto: não existe nenhum processo "espiritual" dissociado de algum processo cerebral. Mas a ideia de que a mente humana não é mais do que a actividade cerebral - essa já é outra tese e há muitos e bons argumentos contra ela. Ah, não se enganem: não é preciso acreditar na alma, nem em entidades míticas, para dizer isto. Embora a retórica da peça seja a mesma retórica das posições científicas que se arrogam ser as únicas detentoras do ponto de vista correcto sobre os factos: ou isto, ou os mitos. Tretas, digo eu.
Mas, enfim, vale a pena passar pela Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II, até Domingo 11 de Outubro. Pode ser que vos aconteça como a mim: passei o espectáculo todo a imaginar o que eu diria se no fim houvesse ali mesmo um debate. Apeteceu-me até tirar notas...