6.4.20

Telescola?!



Vejo por aí muita risota a propósito do "regresso à telescola". Partilho duas ou três notas sobre isso.

Observação preliminar: deixo de lado os que, há uns anos, fizeram uma enorme campanha política contra o Magalhães. Quanto a esses, fico só à espera de qualquer sinal de que reconheçam, à distância, a gravidade da miopia como doença política.

Depois, sugiro, aos que fariam sempre melhor, que se informem sobre as condições em que poderíamos, nestas circunstâncias, pôr a funcionar cerca de 50.000 equipamentos para suprir as faltas mais evidentes só no ensino básico. Não é pensar quanto custaria comprar, em condições normais, 50.000 máquinas capazes de irem para casa dos alunos e funcionarem, ligados à rede. É pensar em que condições isso seria feito agora, com a produção em baixo e com os eventuais fornecedores sabendo que o Estado precisava de comprar em 15 dias essa quantidade de máquinas. E não bastaria comprar as máquinas: haveria que instalar as mesmas, agora. Aparentemente, para os que têm a crítica fácil, tudo isto não interessa nada. Ah, dizem, e por que não se fez nada antes? Não se fez nada?! 50 mil alunos sem acesso em cerca de um milhão de alunos do básico, isto é nada?!

A outra nota é: os que parecem pensar que a escola vai ser só TV, podiam informar-se melhor. A escola a distância já não foi só isto ou só aquilo durante as últimas semanas do segundo período. As escolas, os professores, fizeram das tripas coração para tentar respostas que servissem o maior número possível de alunos. Sabemos que alguns ficaram de fora. É principalmente por causa dos que ficaram de fora que temos de alargar os modos de chegar a todos. Usar a TV é, em larga medida, uma via para tornar as coisas menos desiguais para os que ficaram de fora até agora. Mas o que as escolas vão fazer é usar várias vias, entre elas os conteúdos transmitidos por TV vão ser um dos elementos. Não há milagres, mas a esmagadora maioria das escolas e dos professores estiveram a fazer milagres - e vão continuar a fazer. O uso da TV não é a panaceia, é mais um recurso para apoiar este enorme esforço.

Uma coisa me parece certa: tudo o que se está a fazer é importante, antes de mais, para aqueles que encontram na escola o seu principal elo a uma vida futura possivelmente melhor do que a sorte herdada. E, nestas condições, as falsas soluções, que seriam bonitas na aparência mas seriam impossíveis de implementar a tempo e horas, e deixariam pendurados os mais frágeis, são apenas isso: falsas soluções.

O grande problema de alguns é que continuam a pensar que o que está em causa na transição digital é uma operação tecnológica: é pôr lá as máquinas e pronto. Mas não é assim. Pensava que esta crise teria ensinado aos distraídos essa coisa simples: mudar de hábitos e rotinas não é assim tão simplesmente uma questão de máquinas. Já pensaram na diferença entre um menino que está numa família onde toda a gente sabe trabalhar com computadores e um menino de uma família que pela primeira vez está debaixo de um mesmo tecto com um computador? A máquina pode ser igual, mas tudo o resto...

Porfírio Silva, 6 de Abril de 2020
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