O artigo de António Barreto, "A corrupção e suas variedades", incorre no pecado capital de muitos outros comentários: mete tudo no mesmo saco. A sua tese, no fundo, é que o PS é um partido corrupto. Colectivamente corrupto. Por quê dar uma especial atenção a AB, quando tantos outros propalam o mesmo? Porque AB não é um mero rabiscador de colunas que nunca são mais do que produtos laterais de programas pretensamente humorísticos para se poder ser político sem pagar o preço de o ser. Porque AB, quando deixou de controlar a frustação pessoal por não ter concretizado o sonho de ser SG do PS, perdeu os mínimos de razoabilidade em qualquer apreciação sobre o PS - uma forma de corrupção intelectual grave em alguém com a história e o currículo de AB.
Não seria preciso a AB fazer longas pesquisas na internet sobre a existência de grande corrupção em figuras de outros partidos portugueses. Mas isso não lhe interessa nada. Interessa-lhe o PS e ponto. E essa parcialidade é o rabo de fora que denuncia a espécie do gato, a mostrar que o que lhe interessa é atacar o PS e não atacar a corrupção. E essa corrupção intelectual é cancro na democracia: manipular o tema da corrupção apenas como instrumento de ataque a um partido é, afinal, defender a corrupção, porque é criar as condições para criar uma corrupção má (a dos adversários) e uma corrupção boa (a dos que têm as ideias com que simpatiza). Esse é o ecossistema onde a corrupção melhor se defende.
A existência de corruptos num partido ou num governo é preocupante, qualquer que seja o partido ou o governo. Mas pretender que os corruptos agem com o conhecimento, ou mesmo com a conivência, dos outros membros desse partido ou desse governo, e afirmar isso assim como tese geral, é simplesmente uma atoarda completamente irresponsável, uma afirmação gratuita e sem fundamento. Poupar a corrupção é um enorme perigo para a democracia. Querer usar a corrupção de alguns para decretar a morte de um partido, não é menor ameaça à democracia. AB devia controlar o seu ódio ao PS e ser um pouco mais racional. O seu texto é de uma demagogia infame. O seu texto é um exemplo extremo daqueles que usam as "mãos limpas" para meter tudo no mesmo saco e, desse modo, atacarem a democracia enquanto criam verdadeiras cortinas de fumo que verdadeiramente só favorecem os corruptos. Porque só aos corruptos pode interessar que se meta tudo no mesmo saco.
Os políticos não são todos iguais. Mesmo os que parecem ex-políticos, mas nunca curaram as suas frustações políticas, não são todos iguais. Alguns são especialmente culpados de sobreporem as suas raivas à honestidade intelectual.
Porfírio Silva, 6 de Maio de 2018