O combate no PS é um combate pela democracia em Portugal. Não podemos gritar "ai, que vem aí o populismo!" e depois dar armas e bagagens ao populismo contra o qual se brama.
Quais são, na essência, as armas do populismo? Primeira, propalar falsas soluções fáceis e rápidas para problemas que só têm saídas complexas, demoradas e delicadas. Segunda, apontar para o manobrismo e o tacticismo da política, dados como prova de que os representantes não se interessam pela realidade, mas apenas pela suas vidinhas de políticos.
É por isso que, se continuar a prevalecer no PS a actual tentativa para centrar a batalha na ideia de que um chefe, para ser chefe, é inamovível, em lugar de se discutir o que está em causa no país e a melhor forma de o PS assumir as suas responsabilidades - quem assim procede estará a alimentar a campanha surda do populismo contra a política. E isso seria renegar o essencial da história do PS. O PS pode não ter implantado o socialismo neste jardim à beira-mar, mas foi sempre um esteio da democracia. O PS não pode tornar-se hoje numa acha para a fogueira desse inimigo mudo da democracia que é o populismo vago e difuso que, mesmo quando toma um rosto, anda por aí anónimo nos pequenos e grandes desesperos da vida de todos os dias. Um dirigente partidário que reage aos desafios com a ideia "querem tirar-me o lugar" está a dizer às pessoas: "estou aqui para salvar a minha pele, o meu lugar no mundo é a minha prioridade". E é dessas mensagens passadas pelos políticos que se alimentam os populismos.
Até acredito que AJS queira dar o seu melhor ao país; até posso admitir que, tendo-se esforçado, merecia melhor sorte. E defendo, sem qualquer cinismo, que era preciso encontrar maneira de todos sairem deste combate dignamente: o PS não devia triturar o seu SG, nem este grupo actualmente na direcção, porque a grandeza do PS é a sua pluralidade. Mas é preciso que ele deixe...
Por isto digo que o combate no PS é um combate pela democracia. Pela qualidade da democracia, contra o populismo, contra o sectarismo. Um combate que o PS não pode perder, que a democracia não pode perder. E esse é um ponto prévio a qualquer outra escolha, de pessoas ou de projectos.