A parte estatutária do processo político actualmente a correr no PS merece uma interrogação: será que António José Seguro passou os três anos de auto-inflingida anulação a magicar umas regras internas que, em vez de se destinarem a tornar o PS mais ágil e mais lúcido a responder às necessidades do país, se destinariam a proteger a direcção do juízo dos próprios militantes do partido?
É que certas disposições estatutárias podem acabar por revelar-se impróprias para fazer face a circunstâncias imprevistas (não há juristas perfeitos), mas isso pode reconhecer-se e corrigir-se, desde que todos estejam focados nas responsabilidades de um grande partido democrático face ao país. Coisa diferente é perceber-se, pelo andar da carruagem, que os estatutos foram imaginados propositadamente para serem uma espécie de fosso dos jacarés entre o mundo e o quartel-general do dignitário em exercício.
É que, quando se pensa nisto a par com a ideia de reduzir o número de deputados (cujo único efeito notável seria tentar eliminar a diversidade parlamentar à esquerda), teme-se que haja uma linha de rumo cuja essência é tentar ganhar qualquer batalha política na secretaria. E esse temor é um temor pela qualidade da democracia.