Sobre um assunto que anda por aí a indignar muito boa gente, quero esclarecer o seguinte.
Sempre fui (quer dizer, não me lembrei disto agora no tempo destes moinantes, sempre fui) contra o corte de estradas, linhas de comboio e de outras comunicações, etc. - contra o uso de meios ilegais para protestar. Mesmo quando, em certos casos, possa perceber o desespero das pessoas (e já me aconteceu perceber esse lado subjectivo).
Se se quer fazer uma revolução, desmantelar a legalidade vigente, paralisar o país para deitar a mão às autoridades, instalar outro regime e outra legalidade: pronto, concorde-se ou não, quem o quer fazer que vá por aí. Não aceito é que se confunda isso com as vias legais para manifestar opinião, protesto, desagrado, indignação - porque não falta como protestar, o nosso problema não é esse.
Até poderia acrescentar o problema da eficácia do protesto - e essas "revoluções de pacote ao fim da tarde" só prejudicam a eficácia possível dos protestos suportados em estruturas com alguma representatividade social (como são as centrais sindicais, apesar de tudo). Ainda há, contudo, quem bata palmas a quem, uma vez a seguir a outra, faz o que agrada ao governo, que é dar a ideia que, sempre que há protestos, há tolices.
Até poderia ir buscar exemplos de lutas estapafúrdias, ou mesmo que me repugnam, que recorreram a esses métodos, só para impressionar os que pensam que esses cortes são sempre muito progressistas. Mas nem me vou dar essa desculpa: sou contra a quebra da legalidade por dá cá aquela palha, ainda por cima quando isso se faz às cavalitas de protestos que tentam agregar. E sou contra por princípio. É que com coisas sérias - o protesto, tanto como a legalidade democrática - não se brinca.
Bem sei que os moços do governo são os primeiros a dar o exemplo de falta de respeito pela legalidade, a começar pela lei número um. Só que, precisamente, não aprecio nada que se usem esses mesmos tiques (desrespeitar a legalidade) que estão em moda nos "de cima".