10.6.13

a condição partidária.




Quem me conhece (politicamente) sabe que tenho uma posição sobre o papel dos partidos na democracia que é uma forquilha com dois dentes.
Primeiro dente: os partidos são essenciais a uma democracia estruturada, porque organizam propostas de governo e forças para as defender, numa lógica de uma certa continuidade que permite dar profundidade temporal ao juízo sobre o desempenho e sobre os protagonistas. (Isto evita aqueles magníficos independentes que surgem no firmamento como estrela dos Magos e logo que podem pegam no baú e fogem com o que conseguem arrebanhar do tesouro político entretanto amealhado, enquanto as pessoas de partido criam uma história que pode ser consultada e não os deixa falar sem confronto com o seu percurso anterior.) Neste primeiro dente da forquilha incluo uma característica geralmente mal compreendida: quem participa num partido engole, às vezes, opções de que não gosta, porque assim tem de ser num colectivo: se cada um faz o que bem lhe apetece em cada momento, não há sentido em que se esteja num colectivo. Segundo dente da forquilha: não faz sentido que um cidadão renuncie em todas as circunstâncias à sua opinião e à sua responsabilidade pessoal em nome da adesão ou simpatia para com o partido. Nesse caso, o cidadão partidário torna-se uma marioneta do colectivo.
Nem sempre é fácil andar com a forquilha equilibrada nestes dois dentes, em tensão. Mas cada pessoa, pelo menos se tem esta mesma visão sobre os partidos, tem de saber ir compondo esse equilíbrio, em plena responsabilidade pessoal. Vejamos como, pessoalmente, aplico esta "teoria" às eleições autárquicas.
Em princípio, como tendo a estar mais em sintonia com o PS do que com qualquer outro partido, olho para uma eleição autárquica com um preconceito: inclino-me, à partida e em abstracto, para o candidato do PS. Mas isso não me leva logo de mãos atadas e olhos vendados para a urna de voto, pronto a riscar no apropriado quadradinho. Tenho, posto o preconceito, de o analisar. E, em certos casos, terei de ir contra o preconceito e votar diferente do que propõe o partido que colhe o meu pré-juízo favorável. Se a minha análise mo ditar, terei mesmo de contrariar a minha simpatia de partida. É que, sendo pró um dado partido que já confessei, não posso ser menos cidadão por causa disso. Felizmente, neste caso, voto em Lisboa e estou confortável com o que o meu preconceito me sugere. Mas há, por esse país fora, casos diferentes. Felizmente, só voto num concelho em cada eleição autárquica. Embora isso não me faça esquecer o significado de certos "tiros" que por aí foram dados...
Claro, é muito mais fácil ser supremamente independente e olhar de alto para estas ninharias de quem tem compromissos, como se os "independentes" tivessem a cabeça cheia de "consciência" e os "outros" fossem comandados por uns botões virtuais. Que não é o caso, nem por um lado nem pelo outro.