Em dia de greve de professores, embora não esqueça que o direito à greve pode ser bem ou mal usado e que os cidadãos têm direito a esse juízo, sempre quero dizer o seguinte: estranho imenso que haja tantos democratas que lamentem o prejuízo dos alunos (que é um facto, tal como é um facto que o Ministro não fez nada por essa preocupação, apenas a usou demagogicamente) e passem tão "como cão por vinha vindimada" sobre o prejuízo que é para toda a comunidade nacional (incluindo para os alunos) que o Ministério da Educação se tenha transformado numa mera peça de uma guerra ideológica contra o serviço público, querendo fazer dos professores da escola pública as vítimas propiciatórias dessa guerra ideológica.
Dizem alguns, a título de argumento, que só há greves na função pública e que o "grevismo" não tem adesão no privado. Pois, se calhar queriam exigir aos precários e aos precários e aos precários (porque há muitas precariedades) que fizessem as greves exemplares. Em vez de apoiarmos os que ainda podem fazer greve, atiramos para cima deles a "culpa" de já poucos trabalhadores terem efectivo direito à greve? A inversão de valores mostra como a selvajaria deste particular capitalismo já nos entrou pela pele dentro.
É que - e, por favor, não me venham com confusões - esta greve não é contra o progresso da escola pública; porque o que o nacional-cratismo está a fazer não é pelo progresso da escola pública, mas pelo seu esmagamento. A legitimidade de uma greve não se mede em abstracto, mede-se pelas circunstâncias e, em especial, por aquilo que combate. E isso faz desta greve uma greve legítima. E, por mor da ceguinha, metam na cabeça que o risível Mário Nogueira (que também não admiro, para dizer o menos) não pode ser desculpa para estarmos sempre contra qualquer greve dos professores.