3.12.12

a fome e a opinião (ou Jonet e o Banco Alimentar).


O Banco Alimentar fez mais uma das suas campanhas de recolha de alimentos e saiu-se tão bem como de costume. Muitos, especialmente nas chamadas redes sociais, inferem que esse facto referenda a justeza das opiniões políticas que Isabel Jonet tem proferido nos últimos tempos. Essa inferência parece-me tão descabelada como as juras de boicote aos bancos alimentares que apareceram nas mesmas redes sociais aquando da polémica sobre as tais declarações. Essa mistura de planos diferentes, praticada que tem sido tanto por simpatizantes como por antipatizantes das opiniões de Isabel Jonet, parece-me sinal de um atraso político e civilizacional perigoso, porque confunde duas coisas diferentes: opinião e acção. Qualquer pessoa pode ter opinião e dessa opinião deve poder discordar-se livremente, tal como concordar. Tentar excomungar os que discordam dessa opinião em nome da obra da pessoa, é uma concepção anti-pluralista da vida em comum. Tentar demolir a obra no seu todo por causa das opiniões, é uma concepção demasiado teórica e ideológica da vida real, o que é triste porque a vida concreta de gente concreta é sempre mais complexa e subtil, mais dura e resistente, do que qualquer opinião ou filosofia. Os radicais pró-Jonet e os radicais anti-Jonet estão bem uns para os outros: parecem ter dificuldade em discordar sem demonizar, parecem demasiado interessados em ganhar a sua própria guerra retórica. São, finalmente, capazes de transformar qualquer debate em mais um episódio da guerra civil não declarada que está em curso. Lastimável. A arrogância moral e a ortodoxia ideológica deram já provas históricas de andarem de mãos dadas sem pejo. Nada de novo, portanto.