23.12.07

O jornal de Belmiro, o BCP, o polvo, outros pecados inconfessáveis e uma grande falta de pachorra para tanta tolice

O jornal de Belmiro, de que se ocupa José Manuel Fernandes, continua a alucinar. Desta vez a propósito do Banco Comercial Português e da possibilidade de Carlos Santos Ferreira, actual presidente da Caixa Geral de Depósitos em fim de mandato, ser o seu próximo líder. Fala da eventual eleição de Santos Ferreira como “de inspiração partidária”, sublinhando que ele é “um ex-dirigente socialista”. A senhora que assina o texto, como tantos que escrevem nos jornais e se apresentam em outros meios de comunicação, acha que, talvez por direito divino, pode cuspir para cima de quem lhe apetece. Se se ocupasse antes a preservar alguma objectividade talvez encontrasse explicação melhor para a hipótese Santos Ferreira ser posta em cima da mesa em altura de crise: para grandes males, grandes remédios – atendendo à obra passada e presente do tal senhor.

Fala-se da eventual escolha de Santos Ferreira como se estivéssemos perante mais uma golpada do polvo socialista, do próprio governo, para controlar tudo e mais alguma coisa na sociedade portuguesa. Mais uma declinação da parvoíce agora em moda, que é o “estamos a caminhar para uma ditadura”, alardeada com mais ou menos falta de vergonha na cara. Como se os accionistas do BCP fossem uma cambada de militantes socialistas (e se fossem, não tinham direito?) ou fossem simplesmente estúpidos e, portanto, inclinados a votar contra os seus próprios interesses na sua instituição.

Talvez só se pudesse satisfazer esta gente proibindo qualquer socialista de ser competente, de demonstrar capacidades que o torne apetecível para o exercício de cargos difíceis em grandes instituições – ou talvez até proibindo terminantemente qualquer socialista de pisar o solo sagrado de “sectores estratégicos”. Outra medida complementar que também poderia ser ponderada, para aplacar a ira dos amigos de José Manuel Fernandes, seria legislar para que qualquer governo socialista devesse ser constituído exclusivamente por funcionários das empresas do mesmo grupo do proprietário do Público, na condição de que demonstrassem não ser e não terem sido, pelo menos nos últimos dez anos, militantes, simpatizantes ou até aparentados com os socialistas.

Parece que já não importa nada que o que se tem passado no BCP seja a demonstração da falta de nível de um certo capitalismo português. Os que têm os olhos grandes para ver os erros do Estado, mas têm as pálpebras pesadas para ver as trafulhices dos privados, fartam-se de dar voltas ao miolo para inventar conjuras do partido no governo contra a liberdade de empresa neste país. No fundo, não estão muito longe daqueles dirigentes do PSD que usam o Parlamento Europeu para tentar contrariar o universal aplauso europeu à Presidência Portuguesa da União Europeia. No fundo, o ponto é o mesmo: em desespero, vale tudo. Até tentar arrancar os olhos aos portugueses, para que não possam reconhecer a distância entre a realidade e a demagogia.