Esta crise política anunciada, que se deve inteiramente ao facto
de Luís Montenegro querer usar as eleições como seu guarda-chuva privativo
contra as consequências das suas trapalhadas, já serviu para nos mostrar alguma
coisa sobre o leque de putativos candidatos presidenciais.
Todos os candidatos à Presidência da República de que se vai
falando mostraram, na atual conjuntura, falta de visão – e falta de compreensão
da Constituição. Ou, em alternativa, uma confrangedora falta de coragem.
Não tinham que se enredar em apelos melodramáticos ao
entendimento entre partidos, apelos verdadeiramente vazios de conteúdo.
Só tinham de dizer uma coisa: se o governo cair por causa do
comportamento do primeiro-ministro, o que um Presidente da República devia
fazer era solicitar ao PSD, líder da candidatura que chegou à frente nas
eleições, que indicasse outro nome para primeiro-ministro capaz de apresentar
um governo a este Parlamento. Esse novo candidato a primeiro-ministro é que
teria de tratar de passar no Parlamento.
Fugindo a dizer isto, todos os putativos candidatos a Presidente
da República mostram que já foram anestesiados pela desastrada magistratura de
Marcelo Rebelo de Sousa, que implementou um desvio continuado ao sistema
constante da Constituição da República Portuguesa, tratando de “resolver” tudo com
sucessivas dissoluções parlamentares e sucessivas eleições antecipadas. Uma conceção
presidencial que desvaloriza o papel do parlamento, que trata de transformar a
presidência num acelerador de todas as dificuldades do regime (já por falar
demais, já por interferir demais, já por aproveitar cada nova situação para
diminuir a sua própria margem de atuação) em vez de se manter como embraiagem
capaz de regular o equilíbrio das forças – tornou-se, afinal, a fronteira que
os candidatos a futuros presidentes não têm determinação para corrigir. À qual
se acomodam. E assim se rebaixam à apagada e vil tristeza de um regime em rampa
deslizante.
