Não acredito na poesia fora da cidade. Julgo que outras vozes poéticas também não julgavam tal exílio concebível. Veja-se o seguinte poema de Sophia:
O Rei de Ítaca
A civilização em que estamos é tão errada que
Nela o pensamento se desligou da mão
Ulisses rei de Ítaca carpinteirou seu barco
E gabava-se também de saber conduzir
Num campo a direito o sulco do arado
Sophia de Mello Breyner Andresen, in O Nome das coisas (1977)
Isso terei aprendido com alguns dos grandes. Aprendido à minha maneira, claro, que pode ser fiel ou não. No meu livro de poemas Monstros Antigos, por sempre me entender como parte da comunidade política, isso transparece. Deixo-vos um dos poemas em que toco mais directamente essa questão:
Contudo, que a minha poesia está, como eu, sempre dentro da cidade, é consubtancial a toda a minha escrita. Nuno Júdice, na apresentação do livro, explica, a meu ver bem, como é essa relação. Deixo, por isso, o pequeno vídeo onde o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana 2013 resume tudo: "não é uma poesia política, crítica, de forma muito directa, mas..."
(Circunstância: Nuno Júdice apresenta "Monstros Antigos" {poesia} de Porfírio Silva, a 22 de Abril de 2014, no Centro Nacional de Cultura (Lisboa). Toda a crítica de Nuno Júdice aqui: http://youtu.be/ye8RlIBesD0 )