É justa a indignação que por aí vai com o recente comportamento de Manuel Maria Carrilho em questões familiares. A violência doméstica, do homem contra a mulher, da mulher contra o homem, da mulher contra a mulher, do homem contra o homem, dos filhos contra os pais, dos pais contra os filhos, em qualquer formato ou modalidade, por palavras ou actos, é uma infâmia. É levar a exploração violenta para o âmago do sítio onde nos queremos mais abrigados. É o cúmulo da incivilidade, é a selva em acto. Sobre isso, que a justiça consiga fazer o seu trabalho exemplarmente é o que desejo, sem antecipar por minha recriação qualquer condenação que não me compete antes de apurados os factos e as responsabilidades. Sim, porque deverá estar em causa muito mais do que as palavras inaceitáveis de um tipo que tem no CV "professor universitário" e "ministro".
Mas vale a pena pensar no atraso com que chega este escândalo à comoção da opinião pública. A verdade é que Carrilho anda há muito tempo a espalhar veneno e lixo neste país, tratando a honra dos outros como mero combustível dos seus interesses de imagem e de condição. Muitos foram os que toleraram esse comportamento e acolheram ao palácio da publicidade as manobras de Carrilho. Quando deu jeito, os contorcionismos de Carrilho foram admitidos como coisa normal. Por quê? Porque, em geral, os alvos das suas picadas eram políticos. E, claro, cuspir em políticos é, para muitos, aceitável. Agora, depois de terem alimentado o ego da víbora, estremeceis? Que lata, meus senhores.
Carrilho já era um cretino quando só conspurcava os políticos. Mas nessa altura o povão achava graça. Agora perceberam o que a casa gasta. Já não era sem tempo. A ver se, de futuro, topam a maior distância a pinta das aves de rapina da decência pública. É que isto não é coisa de revistas cor-de-rosa, nem assunto de saias: é uma questão de higiene pública.