28.2.07

O que vale um símbolo?


O Papa Bento XVI, na sua recente visita à cidade turca de Istambul, rezou na Mesquita Azul, virado para Meca. Que significado pode isto ter? Vejamos.

Os cristãos e os muçulmanos, tal como os judeus, têm o mesmo Deus. Nada de estranho, portanto, que o Papa reze num lugar de oração de outra religião que partilha o mesmo Deus. E quanto ao rezar “virado para Meca”? O Papa acredita em Maomé como profeta? Se o Papa não assume Maomé como profeta, que significado pode ter virar-se para Meca, uma vez que essa orientação simboliza o respeito pelo profeta Maomé?

Vejamos as coisas de outro modo.

Se eu souber o que significa o sinal de trânsito redondo, de fundo vermelho, com uma faixa horizontal branca no centro (sentido proibido) e entrar a conduzir o meu automóvel particular numa rua à entrada da qual está colocado esse sinal, estou a desrespeitar esse sinal. Em dois sentidos: estou a ter um comportamento que vai contra o que prescreve esse sinal, e sei que estou a infringir o código da estrada. Diferentemente, se eu não souber o que significa aquele sinal, o mesmo comportamento é objectivamente uma infracção, mas eu, não sabendo disso, estou a agir de forma diferente. Em particular, não estou a concretizar qualquer acto consciente de infracção. Eu não posso desobedecer conscientemente a uma regra que não conheço. O símbolo (o sinal de trânsito) é um facto material, mas não é só isso. O sentido do que eu faço perante um símbolo depende do que eu reconheço nesse símbolo.

Voltando ao nosso assunto: se o Papa não reconhece o profeta Maomé, que sentido tem que ele reze virado para Meca? Será pura encenação? Não. Pode ser outro acto simbólico. Faz certos gestos, não porque lhes dê a mesma interpretação que os seus anfitriões turcos, mas para significar que os respeita. Para significar que entende os seus símbolos e os respeita. Mas isso, note-se, é algo que escapa ao mundo apenas material.