22.2.07

Machina Speculatrix (1)


Vamos então cumprir a promessa de explicar de onde vem isto de Machina Speculatrix. Para começar, teremos um texto longo, tão longo que se espera não volte a repetir-se neste blogue – mas, deste modo, muito se explica da identidade deste espaço.

Machina Speculatrix eram “tartarugas electrónicas” construídas por Grey Walter no final dos anos 1940. As duas primeiras “tartarugas electrónicas” chamavam-se Elmer (ELectroMEchanical Robot) e Elsie (Electromechanical Light-Sensitive robot with Internal and External stability) e foram construídas em 1948 e 1949.


Imagem do catálogo da exposição "1951 Festival of Britain, the Exhibition of Science", aberta ao público em South Kensington com o objectivo de mostrar as perspectivas da ciência no pós-guerra.


O que Grey Walter pretendia era fazer imitação científica da vida por meios artificiais, “electrobiologia”. A foto abaixo, mostrando o senhor e a senhora Walter, o filho de ambos e a “tartaruga” Elsie, levava a seguinte legenda: Ce couple a deux enfants dont un électronique.




Esta pretensão de familiaridade com os humanos inscreve-se na pretensão de que todos, tanto os “humanos naturais” como as “tartarugas artificias”, são animais. É por isto que Grey Walter é considerado um pioneiro da robótica inspirada na biologia.


Uma Machina Speculatrix com carapaça transparente para deixar ver as entranhas.


Mas o que eram as tartarugas electrónicas? Cada Machina Speculatrix tinha a estrutura de um carrinho de três rodas, sendo que as rodas traseiras são passivas e a roda da frente é a responsável pela tracção e pela direcção. A aparência de “tartaruga” era dada por uma carapaça metálica que cobria praticamente todo o conjunto. A máquina era dotada de dois sensores (uma célula fotoeléctrica e um comutador mecânico sensível à pressão) e dois efectores (dois pequenos motores eléctricos, um responsável pela tracção e outro responsável pela direcção). O essencial do mecanismo eléctrico interno era constituído por duas válvulas amplificadoras e por dois relés. A imagem seguinte, onde a tartaruga aparece sem carapaça, dá uma ideia do interior da máquina.




Na parte anterior da “tartaruga” encontra-se uma estrutura vertical onde estão montadas algumas das peças mencionadas. No topo a célula fotoeléctrica, em baixo a roda motriz e o respectivo motor de tracção, ao meio uma lâmpada (que em funcionamento se vê através de uma abertura na carapaça) que acende sempre e apenas quando o motor de direcção está em funcionamento. A célula fotoeléctrica está alinhada com a roda da frente e encontrava-se protegida por uma “viseira” de tal modo que só recebia luz numa direcção. Esta estrutura vertical roda sobre si mesma comandada por uma roda dentada que por sua vez é movida pelo motor de direcção instalado no “corpo” do “carrinho”.
Na parte superior do “corpo” do “carrinho”, muito próximo da carapaça quando esta esteja colocada, está montado um comutador mecânico com botões que funcionam como sensores de contacto: quando a “tartaruga” se encontra num plano inclinado ou choca com um obstáculo, a carapaça prime esses sensores.
Como máquina eléctrica, a “tartaruga” é basicamente constituída por dois circuitos. O primeiro circuito controla a alimentação de cada um dos motores pela bateria. Este circuito é controlado por dois relés electromecânicos. O segundo circuito controla precisamente o funcionamento desses relés. O elemento central deste segundo circuito são duas válvulas electrónicas funcionando como amplificadores.

(Amanhã continuamos e terminamos esta explicação do que vem a ser isso de "Machina Speculatrix". Veremos, então, vários "comportamentos naturais" destes "animais artificiais".)