28.1.13

Julião Ludwig Sarmento Wittgenstein, Remarks on Colour.


Julião Sarmento está com uma grande retrospectiva em Serralves. Foi aí que pudemos ver o seu vídeo R.O.C. (40 plus one), no qual uma rapariga lê (muito roboticamente) um longo excerto da obra, de Ludwig Wittgenstein, Remarks on Colour (em português deram-lhe o título Anotações sobre as Cores). Enquanto entra pelo jogo de linguagem de Wittgenstein, a rapariga vai mostrando outros aspectos de si.
Deixo excertos. Mais abaixo deixo uma tradução, disponível comercialmente, dos parágrafos seleccionados.
Mais informação sobre o vídeo aqui.



1. Um jogo de linguagem: Referir se determinado corpo é mais claro ou mais escuro que um outro. — Mas agora existe um jogo semelhante: enunciar a relação entre a claridade de certos tons de cor. (Comparar com o seguinte: determinar a relação entre os comprimentos de duas varas — e a relação entre dois números.) A forma das proposições em ambos os jogos de linguagem é a mesma: "X é mais claro que Y". Mas, no primeiro, a relação é externa e a proposição temporal; no segundo, a relação é interna e a proposição atemporal.

3. Lichtenberg diz que apenas poucos homens teriam alguma vez visto o branco puro. Neste caso a maior parte utilizará apalavra de uma forma errada? E como aprendeu ele o uso correto? — Construiu um uso ideal a partir do uso comum. E isto não quer dizer um melhor, mas um uso que tinha sido refinado segundo uma certa orientação e em tal decurso alguma coisa foi levada aos extremos.
4. E, certamente, uma tal construção pode, por sua vez, ensinar-nos algo acerca do uso efectivo da palavra.
5. Se disser que um papel é branco puro e se a seu lado se puser neve, e aquele parecer agora cinzento, continuaria a estar certo quando, no seu contexto habitual, lhe chamasse branco e não cinzento claro. Poderia acontecer que eu usasse um conceito mais depurado de branco, (digamos),num laboratório (onde, por exemplo, eu também usaria um conceito mais depurado da determinação exacta do tempo).

8. Os homens podiam ter o conceito de cores intermediárias ou mistas mesmo que nunca tivessem produzido cores através de mistura (em qualquer dos sentidos). Os seus jogos de linguagem apenas deveriam ter a ver com a procura e com a selecção de cores intermédias, ou mistas, já existentes.

12. Imagina tu que todos os homens, salvo raras excepções, fossem daltónicos quanto ao vermelho e ao verde. Ou outro caso ainda: todos os homens eram daltónicos quanto ao vermelho-verde ou ao azul-amarelo.
13. Imaginemos um povo de daltónicos, o que pode bem acontecer. Não teriam os mesmos conceitos de cor que nós. Supondo que falariam, por exemplo, alemão e teriam assim as palavras alemãs para as cores, usá-las-iam diferentemente de nós e aprenderiam a usá-las também deforma diferente. Ou se tivessem uma língua estrangeira, ser-nos-ia difícil traduzir as suas palavras de cor para as nossas.

33. Falamos da «cor do ouro» e não queremos dizer amarelo. "Cor de ouro" é a propriedade de uma superfície que brilha ou resplandece.