Há uns meses, num dos momentos mais difíceis da pandemia, um porta-voz do PSD dizia “temos um Primeiro-Ministro cansado”, e insistia, com um certo desdém, “o Primeiro-Ministro está cansado, precisa de ir descansar”.
O Primeiro-Ministro pode ter tido momentos de cansaço...
Como certamente tiveram enfermeiros e médicos, professores, cuidadores - e os milhões de trabalhadores que saíram de casa todos os dias para que os portugueses pudessem continuar a alimentar-se, a ter recolha de lixo, segurança nas ruas, produção industrial essencial, etc. etc. etc.
Mas, mesmo cansados, os portugueses não desistiram, não seguiram aquele mau conselho do deputado do PSD – cujas palavras ilustravam uma política: enquanto o governo, como a esmagadora maioria dos portugueses, das instituições, das famílias, enquanto essa grande parceria lutava para preservar a saúde e debelar a crise, o principal partido da oposição escolheu fazer da pandemia uma oportunidade para tentar desestabilizar a governação, talvez mesmo sonhando derrubar o governo. E, em alguns momentos, terão acreditado que tinham encontrado parceiro disponível para tal.
Levamos ano e meio de pandemia, mas o maior partido da oposição não terá levado mais do que mês e meio a desistir de uma postura responsável face ao maior embate das nossas vidas. E mostrou isso ao país atolando-se na contradição continuada e sistemática.
O Orçamento, primeiro dava tudo a todos, depois era curto.
No Natal, era para atenuar as medidas, depois não devia ter havido Natal para ninguém.
Rui Rio dizia que havia professores a mais, agora parece que já é o contrário.
Em maio, era urgente abrir as fronteiras aos britânicos, mas quando os britânicos vieram, afinal tínhamos sido vexados pelos súbditos de Sua Majestade.
Primeiro, o governo não fazia reformas, depois, havia reformas escondidas no PRR.
E foi este caldo de contradição continuada e sistemática que alimentou o vale tudo: o “fecha, fecha” quando se abria, seguido do “abre, abre”, quando a preservação da saúde obrigava a encerrar.
Que deu cobertura à irresponsabilidade, como quando ouvi aqui no parlamento ser dito “a variante britânica não determina o encerramento das escolas, a variante britânica é uma desculpa do Primeiro-Ministro”. Pasme-se, ouvimos isto aqui.
O ataque à Presidência portuguesa do Conselho da União Europeia teve o seu momento pífio quando uma eurodeputada do PSD comparou Portugal com a Hungria de Orbán, escrevendo que “em matéria de regime político parece ser cada vez mais o que nos aproxima do que o que nos separa”. Orbán saiu do PPE, a custo, mas o estilo ficou, pelos vistos.
Senhores deputados, senhores membros do Governo,
Numa democracia, o estado da nação é também o estado da oposição. Uma oposição negativista, sem uma visão para a recuperação, é uma oposição que falha ao país. Quanto a isso, nada podemos fazer.
Mas temos feito a parte que nos toca. Antes da pandemia, estávamos a crescer acima da média europeia e tínhamos excedente orçamental. Antes da pandemia, a nossa agenda progressista já estava em marcha.
A aposta no digital, aplicado na saúde ou na educação, por exemplo, não a descobrimos na pandemia. O combate às desigualdades e à pobreza, a aposta na habitação, no emprego digno, nos serviços públicos, numa transição climática justa, na mobilidade sustentável, na coesão territorial, na descentralização – não esperámos pela pandemia para avançar em nenhum destes domínios e a nossa agenda anterior à pandemia preparou o país para a extraordinária resposta que os portugueses deram a este desafio.
Senhores deputados, senhores membros do Governo,
Estamos prontos para o futuro. E queremos partilhar a responsabilidade de juntar as forças de todos aqueles que, nos últimos anos, fomos construindo um caminho de progresso, onde Portugal só pode estar bem se os portugueses estiverem melhor.