22.7.21

O estado da nação

 
 
Para registo, deixo aqui a minha intervenção no debate do estado da nação de 2021, que teve lugar ontem na Assembleia da República.
 
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Senhora Presidente, senhores membros do Governo, senhores deputados,

Há uns meses, num dos momentos mais difíceis da pandemia, um porta-voz do PSD dizia “temos um Primeiro-Ministro cansado”, e insistia, com um certo desdém, “o Primeiro-Ministro está cansado, precisa de ir descansar”.

O Primeiro-Ministro pode ter tido momentos de cansaço...

Como certamente tiveram enfermeiros e médicos, professores, cuidadores - e os milhões de trabalhadores que saíram de casa todos os dias para que os portugueses pudessem continuar a alimentar-se, a ter recolha de lixo, segurança nas ruas, produção industrial essencial, etc. etc. etc.

Mas, mesmo cansados, os portugueses não desistiram, não seguiram aquele mau conselho do deputado do PSD – cujas palavras ilustravam uma  política: enquanto o governo, como a esmagadora maioria dos portugueses, das instituições, das famílias, enquanto essa grande parceria lutava para preservar a saúde e debelar a crise, o principal partido da oposição escolheu fazer da pandemia uma oportunidade para tentar desestabilizar a governação, talvez mesmo sonhando derrubar o governo. E, em alguns momentos, terão acreditado que tinham encontrado parceiro disponível para tal.

Levamos ano e meio de pandemia, mas o maior partido da oposição não terá levado mais do que mês e meio a desistir de uma postura responsável face ao maior embate das nossas vidas. E mostrou isso ao país atolando-se na contradição continuada e sistemática.

O Orçamento, primeiro dava tudo a todos, depois era curto.

No Natal, era para atenuar as medidas, depois não devia ter havido Natal para ninguém.

Rui Rio dizia que havia professores a mais, agora parece que já é o contrário.

Em maio, era urgente abrir as fronteiras aos britânicos, mas quando os britânicos vieram, afinal tínhamos sido vexados pelos súbditos de Sua Majestade.

Primeiro, o governo não fazia reformas, depois, havia reformas escondidas no PRR.

E foi este caldo de contradição continuada e sistemática que alimentou o vale tudo: o “fecha, fecha” quando se abria, seguido do “abre, abre”, quando a preservação da saúde obrigava a encerrar.

Que deu cobertura à irresponsabilidade, como quando ouvi aqui no parlamento ser dito “a variante britânica não determina o encerramento das escolas, a variante britânica é uma desculpa do Primeiro-Ministro”. Pasme-se, ouvimos isto aqui.

O ataque à Presidência portuguesa do Conselho da União Europeia teve o seu momento pífio quando uma eurodeputada do PSD comparou Portugal com a Hungria de Orbán, escrevendo que “em matéria de regime político parece ser cada vez mais o que nos aproxima do que o que nos separa”. Orbán saiu do PPE, a custo, mas o estilo ficou, pelos vistos.

 

Senhores deputados, senhores membros do Governo,

Numa democracia, o estado da nação é também o estado da oposição. Uma oposição negativista, sem uma visão para a recuperação, é uma oposição que falha ao país. Quanto a isso, nada podemos fazer.

Mas temos feito a parte que nos toca. Antes da pandemia, estávamos a crescer acima da média europeia e tínhamos excedente orçamental. Antes da pandemia, a nossa agenda progressista já estava em marcha. 

A aposta no digital, aplicado na saúde ou na educação, por exemplo, não a descobrimos na pandemia. O combate às desigualdades e à pobreza, a aposta na habitação, no emprego digno, nos serviços públicos, numa transição climática justa, na mobilidade sustentável, na coesão territorial, na descentralização – não esperámos pela pandemia para avançar em nenhum destes domínios e a nossa agenda anterior à pandemia preparou o país para a extraordinária resposta que os portugueses deram a este desafio.

 

Senhores deputados, senhores membros do Governo,

Estamos prontos para o futuro. E queremos partilhar a responsabilidade de juntar as forças de todos aqueles que, nos últimos anos, fomos construindo um caminho de progresso, onde Portugal só pode estar bem se os portugueses estiverem melhor.

 
Porfírio Silva, 22 de Julho de 2021
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