19.1.21

Abrir ou fechar escolas na pandemia?

Para registo, deixo aqui a minha intervenção esta tarde na Assembleia da República, no debate com o Primeiro-Ministro. O tema principal é o do funcionamento das escolas neste momento da pandemia, mas começo por referir a campanha do PSD para tentar desacreditar as autoridades portuguesas na UE no princípio da Presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.

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Senhor Presidente, Senhores Deputados, Senhores membros do Governo, Senhor Primeiro-Ministro,


O PPE, a família europeia do PSD, já anteriormente usou o Parlamento Europeu para tentar desestabilizar o governo de António Costa. E o líder do PPE até desenvolveu uma campanha (sublinho, uma campanha) para pedir sanções contra Portugal. Não foi sanções contra o PS, não foi sanções contra o governo, foi sanções contra Portugal. Vencemos a manobra nessa altura e vamos voltar a vencê-la também desta vez.

Senhor Primeiro-ministro, queria voltar a falar-lhe no esforço que está a ser feito para manter as escolas abertas, apesar de as suas respostas terem sido no essencial muitíssimo claras, mas nós queremos também deixar clara a nossa posição.


É claro que temos de estar sempre preparados, em função de novidades, designadamente se notarmos uma presença importante de uma estirpe do vírus mais contagiosa e mais ameaçadora, temos de estar sempre preparados para mudar de posição e para rever as medidas. Não temos uma posição dogmática e aquilo que nos preocupa são as pessoas. Mas queremos aqui dizer que apoiamos claramente o governo ao fazer todos os esforços para manter as escolas a funcionar em regime presencial. E porquê?


É porque sentimos o dever de falar por quem não tem voz. Há crianças para quem a escola é a única âncora segura da sua vida. Não pensemos só nas famílias desafogadas, não pensemos só nas famílias que têm bibliotecas em casa, que têm quartos confortáveis para os seus filhos, que têm sempre mesa farta. Pensemos também nos que sofrem descuidos, nos que sofrem violência, nos que sofrem carências várias. Pensemos naqueles cujos pais têm de continuar a sair de casa para nós continuarmos a ter alimentação, electricidade, gás, e podermos continuar a viver. E esses muitas vezes não têm voz no espaço público.


Há quem diga “fechemos as escolas, porque um ano ou dois anos não importa, recupera-se mais tarde”. Mas nós temos nas nossas escolas muitas centenas de milhares de crianças e adolescentes que estão em idades decisivas do seu desenvolvimento. Nem sempre é verdade que o que se perde agora se recupera mais tarde. É que não se trata só de aprendizagens escolares. Trata-se de desenvolvimento cognitivo, desenvolvimento sensório-motor, desenvolvimento emocional, desenvolvimento social, que é obviamente afectado quando os nossos filhos e netos ficam fechados em casa, porque o computador não substitui a relação educativa, não substitui a relação humana, não substitui a relação social.


Esta perda no desenvolvimento vai custar muito nos próximos anos, em saúde, saúde mental, saúde física. Alguns estão a fazer as contas aos custos que isto vai ter em termos económicos. Nós estamos a fazer as contas aos custos que isto vai ter em termos de saúde e em termos de equilíbrio das famílias.


Lembramo-nos bem, porque os deputados do meu grupo parlamentar falaram com centenas de escolas desde o princípio da pandemia: no primeiro confinamento, os directores e directoras que nos diziam “temos aqui uns alunos, não são muitos, são dez, são vinte, mas temos aqui alunos que não somos capazes de contactar com eles, estão desaparecidos, tivemos que pedir à junta de freguesia para procurar por eles”. Por esses ninguém fala. Mas nós falamos. Temos que falar, temos que os proteger e não ser ligeiros.


Apoiamos o governo nesse esforço, mesmo que não sejamos dogmáticos e, eventualmente, tenhamos de rever as medidas se a situação a isso obrigar.


(O vídeo da intervenção está disponível aqui: https://youtu.be/M3SkR9b3F6A)

Porfírio Silva, 19 de Janeiro de 2021
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