14.2.17

A esquerda plural, por cá e alhures



Coisas nada evidentes.

Uma das razões pelas quais sou a favor da "esquerda plural" a fazer maioria parlamentar em Portugal é por ela contribuir para tentar reverter algum do sectarismo entre as diversas componentes da esquerda portuguesa.

Olhando para França, onde o sectarismo à esquerda é uma doença prolongada e agravada, vejo a necessidade urgente de um tratamento que comece a curar esse muro. Já defendi que, em vários países da UE, é preciso um novo diálogo entre a esquerda social-democrata e a chamada esquerda radical, até para enfrentar o problema central da capacidade de representação de que é capaz o sistema político. Aplico esse raciocínio à França, entre outros.

Só que, em França, a esquerda precisa de curar sectarismos em duas frentes. Precisa de curar o sectarismo na "esquerda da esquerda". E também precisa de curar o sectarismo na "direita da esquerda". O facto de Macron poder vir a ser a melhor hipótese de não eleger um presidente fascista nem um presidente extremamente reaccionário, e ao mesmo tempo só ter chegado a candidato por recusar as primárias dos socialistas e ecologistas, deve fazer-nos pensar. Tal como nos deve fazer pensar o facto de Macron, uma espécie de Terceira Via à francesa, coincidir com um candidato oficial do PS muito à esquerda do posicionamento "médio" do partido (pelo menos no discurso).

Sempre insisti que a esquerda democrática, para ser uma alternativa de progresso com capacidade para ser poder, tem de saber falar com muitos primos diferentes. Em França, a falta dessa capacidade sente-se como em mais lado nenhum. E precisa-se, como em muitos outros lados.


14 de Fevereiro de 2017