A divulgação recente dos resultados de estudos internacionais, designadamente o PISA 2015, sobre literacia em áreas como Leitura, Matemática e Ciências vem, mais uma vez, confirmar tendências verificadas nos últimos 20 anos: a melhoria consistente do desempenho dos alunos portugueses nas três áreas avaliadas. A matemática, leitura e a literacia científica, Portugal teve uma melhoria de desempenho que, em dois domínios, elevou mesmo os alunos portugueses acima da média da OCDE.
Como afirmou o Comissário europeu com a área da educação, Tibor Navracsics: “Portugal é o único país da UE que tem melhorado de forma continuada o seu desempenho em PISA desde 2000”. Destacando essa melhoria progressiva, os relatores internacionais escrevem: “Entre os países da OCDE, Portugal tem melhorado mais de sete pontos a cada três anos, em média.”
Os defensores de Nuno Crato, e o próprio, vieram tentar apropriar-se destes resultados. Ora, essa apropriação é abusiva. Quando o PSD vem, pela voz de alguns dos seus principais responsáveis, tentar passar a ideia de que estes resultados se devem ao governo anterior, estão a tentar uma desavergonhada mistificação.
Em primeiro lugar, estes resultados mostram que a demagogia que acusa o sistema português de facilitismo é apenas isso: demagogia.
O sistema educativo que Crato, Passos e Marco António chamam facilitista é o sistema que conseguiu, em competências de leitura, trazer Portugal, de 470 pontos no ano de 2000 para 498 pontos em 2015. É o sistema que conseguiu, em literacia científica, trazer Portugal, de 459 pontos no ano de 2000, para 501 pontos em 2015. E que, no mesmo período, conseguiu que os alunos portugueses, a Matemática, progredissem de 454 pontos no ano 2000 para 492 em 2015. Em literacia científica e matemática acima da média da OCDE.
O progresso contínuo dos alunos portugueses, ao longo de tantos anos, desmente a tese do facilitismo, uma tese ideológica montada por Nuno Crato para justificar as ruturas que operou em relação ao relativo consenso anterior em matéria educativa em Portugal.
Mas, há que dizê-lo claramente, os que pretendem apropriar-se destes resultados a crédito do governo de Passos e Crato, têm, esses sim, um problema de iliteracia – não são capazes de ler os relatórios à luz da verdadeira história do que andaram a fazer.
Crato pretende que foram os exames nacionais de 4º e 6º anos, e as novas metas curriculares, que alavancaram estes resultados. Mas, se virmos quem são os alunos portugueses abrangidos pelo PISA 2015, percebemos imediatamente que aquelas pérolas da governação de Crato não têm nada a ver com estes resultados. Os alunos abrangidos por estes testes não foram atingidos por aquelas medidas de Crato. Veremos nos próximos anos se as medidas de Crato não tiveram mesmo o efeito contrário, atrasando o progresso que o país estava a trilhar. (Cf. As tentações de Crato e da direita perante os resultados do PISA.)
De qualquer modo, é sempre o trabalho concreto nas escolas, o esforço de professores e alunos, que permite avançar. As políticas públicas podem ajudar ou desajudar. Em duas décadas, os alunos portugueses têm progredido continuamente, melhorando os resultados nos testes internacionais. Nuno Crato, Passos Coelho e Marco António Costa não progrediram o suficiente para compreender quão desajeitada é a sua tentativa de apropriação de uma obra que nada se deve às entorses educativas que, por motivos ideológicos, tentaram introduzir na educação em Portugal.
7 de Dezembro de 2016