28.3.14

a mentira como linha geral.


A Lusa, o Correio da Manhã, o Diário Económico, o Diário de Notícias, o Dinheiro Vivo, o Jornal de Notícias e o Público emitiram a seguinte nota conjunta:

Terça-feira, os jornalistas de vários órgãos de comunicação social foram convidados para um encontro informal no Ministério das Finanças. O tema da reunião seria a convergência de pensões. Durante o encontro, foi referido que os temas abordados e discutidos poderiam ser noticiados, mas sem serem atribuídos a nenhum responsável, apenas a fonte do Ministério das Finanças. Os temas tratados, com embargo de divulgação até à meia-noite de quarta-feira, acabaram por fazer a manchete da maioria dos títulos de imprensa de quinta-feira. Os órgãos de comunicação social presentes na reunião rejeitam, por isso, as afirmações a propósito deste tema do porta-voz do Governo, o ministro Marques Guedes, e reafirmam que cumpriram todas as regras da profissão, bem como o acordo feito, em colectivo e na presença de todos, com o membro do Governo que convidou os jornalistas.

Quando a comunicação social noticiou aquilo que lhe tinha sido dito no Ministério das Finanças, as pessoas que no governo filtram a realidade para não dar má imagem, ficaram aborrecidas. Usando a costumeira técnica de mentir e chamar mentiroso aos outros, "Pedro Passos Coelho classificou como "especulação" as notícias sobre novas fórmulas de cálculo das pensões". Se o chefe do governo chama especulação à notícia que relata o que disse um membro do governo, esse chefe do governo está a mentir, a faltar à verdade, a ocultar a realidade, o que quiserem.

No Facebook, o jornalista Paulo Pena comenta assim a situação:

Não é defeito, é feitio. Pela segunda vez, num ano, o Governo acusa os jornalistas de "manipulação" num caso em que, à vista de todos, a única manipulação, para mais grosseira, é a que o próprio Governo faz. Isto é muito grave - qualquer que seja a cor do Governo. É, com toda a propriedade, um atentado a um dos fundamentos do Estado de Direito, a liberdade de informação. Meço bem as palavras. Quando um Governo, incomodado com o que um dos seus membros disse, tenta convencer a opinião pública de que os jornalistas estão a mentir, isso demonstra que o Governo não se limita à sua esfera de acção e quer jogar sujo. Em Agosto aconteceu-me o mesmo, com a história dos swaps do ex-secretário de Estado Pais Jorge. Na altura, lembram-se decerto, havia supostamente um documento manipulado para "incriminar" o secretário de Estado. Agora a manipulação é a existência de uma conversa, formal, num Ministério, que toda a gente sabe que aconteceu e "como" aconteceu. É um padrão.

A mentira tornou-se a linha geral de quem nos governa. E o descaramento com que usam o engano só mostra que confiam nos resultados que têm obtido com essa linha de conduta. O que é preocupante.