Gonçalo Calado, que se identifica como "eleitor e biólogo", tem um texto de opinião no Público que assenta numa leitura do programa do actual governo. Dada a monstruosa desconformidade entre o programa e a prática deste governo, também agora em matéria de investigação, Gonçalo Calado supõe a existência de "erros tipográficos" no texto com que este governo se fez mandatar e sugere as respectivas erratas. No conjunto, o exercício demonstra bem o que está Crato a fazer: à ciência e à democracia. Deixo longas citações do texto (com o meu antecipado pedido de desculpas ao Público, que cito frequentemente de forma breve, mas que hoje tenho de abusar um pouco).
Fui ver o programa deste Governo e detectei algumas imprecisões às quais modestamente proponho uma correcção, a bem da coerência que tal documento impõe:
1. Página 122, terceiro parágrafo, onde se lê “Graças às políticas de investimento de sucessivos governos, a ciência em Portugal representa uma das raras áreas de progresso sustentado no nosso país, tendo vindo a dar provas inequívocas de competitividade internacional” deverá ler-se “A ciência, à semelhança de outras áreas de progresso do nosso país é despesista e tem de ser recalibrada, apesar de ter vindo a dar provas inequívocas de competitividade internacional”.
2. Página 122, quarto parágrafo, onde se lê “O programa deste Governo inclui, portanto, o compromisso de manter e reforçar o rumo de sucesso da ciência em Portugal”, deverá ler-se “O programa deste Governo inclui, portanto, o compromisso de reajustar e podar o rumo de sucesso da ciência em Portugal”.
(...)
4. Página 123, segundo objectivo estratégico, onde se lê “Investir preferencialmente no capital humano e na qualidade dos indivíduos, particularmente os mais jovens, sem descurar as condições institucionais que lhe permitam a máxima rentabilidade do seu trabalho” deverá ler-se “cortar preferencialmente no capital humano e na qualidade dos indivíduos, particularmente os mais jovens, em linha com os ajustamentos noutros sectores da sociedade, de modo a que estes últimos não se sintam inferiorizados, rumo à equidade laboral”.
5. Página 123, quarto objectivo estratégico, onde se lê “Assegurar a permanência dos melhores investigadores actualmente em Portugal e atrair do estrangeiro os que queiram contribuir neste percurso de exigência qualitativa” deverá ler-se “Assegurar a saída da zona de conforto dos melhores investigadores actualmente em Portugal e atrair do estrangeiro os que queiram contribuir neste percurso de precariedade colectiva”.
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8. Página 123, terceira medida, onde se lê “Abrir anualmente, em data regular, concursos para projectos de investigação em todas as áreas científicas, permitindo assim um adequado planeamento de actividades e financiamento estável aos mais competitivos” deverá ler-se “Evitar abrir anualmente, em data regular, concursos para projectos de investigação em todas as áreas científicas, impedindo assim um adequado planeamento de actividades e financiamento estável a todos”.
9. Página 124, última medida, onde se lê “Apoiar a formação pós-graduada de técnicos e investigadores” deverá ler-se “Recalibrar a formação pós-graduada de técnicos e investigadores, em linha com os ajustamentos de outros sectores da sociedade”.
Por vezes, basta deixar falar este Governo para perceber o que é este Governo. Aconselho a leitura integral de Proposta de errata ao programa de ciência do XIX Governo Constitucional.