«Síria: Obama decidiu-se por um ataque.»
Voltando alguns anos atrás no rolo compressor da história internacional, contemplo o escárnio com que alguns opinadores entusiásticos na palavra expressavam o seu desprezo do alto pelas minhas muitas dúvidas acerca da "Primavera árabe". Dando outras tantas voltas à fita, deparamos com as certezas criminosas dos que levaram "o Ocidente" para o Iraque - sendo que todos escaparam sem o mais pequeno beliscão político das respectivas democracias. Agora a propósito da Síria, essas várias ingenuidades (os que são ingénuos e os que fazem de nós ingénuos), parecem preparar-se para retomar algum tipo de salvação do mundo que, como de costume, só pode servir para nos fazer duvidar de que haja salvação possível nesta ordem internacional. Contudo, pensando mais um pouco, vemos que temos de ser nós a estar enganados em algum lado. Não se pode acreditar que ninguém aprenda nada. Alguém vai agora para a Síria em condições de ilegalidade internacional só para retirar um ditador e deixar que outros ditadores ocupem o seu lugar? Não creio. Terá de haver outra explicação.
A minha hipótese é a seguinte: as potências ocidentais que querem intervir na Síria não vão lá especialmente por causa de Assad. Poderiam apoiar quem fizesse esse trabalho por interpostas mãos. As potências ocidentais que querem intervir na Síria querem fazer uma limpeza selectiva na oposição armada. Não é para aborrecer Assad que é preciso entrar no vespeiro, mas para cortar alguns dos ramos mais perigosos da frágil coligação que poderia tomar o poder se Assad fosse derrubado. O futuro depois de Assad poderia ser bem mais espinhoso para os "amigos" do "Ocidente" do que o próprio Assad - e é para podar esses arbustos que os Americanos e outros querem aproximar-se do vespeiro. Apesar dos riscos de qualquer vespeiro.