31.5.11
agora no Porto
O meu livro Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais será apresentado, na próxima quinta-feira, dia 2 de Junho, pelas 18 horas, na Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, à Rua de Rodrigues Sampaio, 140.
A apresentação estará a cargo da Professora Maria Manuel Araújo Jorge, do Instituto de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. A sessão será presidida pela Professora Conceição Soares, da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa (Porto).
Estão todos convidados: basta dizerem à entrada que são convidados do blogue Machina Speculatrix.
Na mesma ocasião, poderão comprar o livro. Em alternativa (não sabem o que perdem), podem simplesmente adquirir o livro na Feira (localização do stand da Âncora Editora na imagem abaixo).
formas de fazer política
A demagogia nem sempre é genuína vontade de enganar o povo. Às vezes é apenas ignorância. Falta de compreensão das próprias palavras.
8 quecas por 5 euros ?!
(Foto daqui)
ai, que não cumprimos o acordo e estamos desgraçados
Comentadores de todas as formas e feitios (desde obtusos a oblongos) estão, dizem eles, preocupados por a campanha eleitoral estar a empecilhar a execução do memorando de entendimento com os emprestadores. Querem que os partidos que apoiaram o memorando nomeiem "alguém" (um comissário) para ir adiantando trabalho.
Espanto-me.
Espanto-me, porque dão de barato que as eleições não servem para nada. E se o BE e o PCP ganharem as eleições? É impossível, dir-me-ão. Mas as eleições servem para impossíveis desses poderem concretizar-se, caso contrário não vivemos em democracia. Em todo o caso, não será indiferente que ganhe o PS ou ganhe o PSD, segundo afiançam tanto PS como PSD. Mas os comentadores referidos dispensam bem a democracia: a suspensão da democracia por seis meses (a "ideia" de MFL) só pecava pela alínea dos seis meses...
Espanto-me, porque vêem com tão grandes olhos que não dava jeito nenhum estar a gerir uma crise política no meio de tão grande turbulência económica, mas, curiosamente, esquecem-se de dizer quem provocou esta crise política. Esquecem-se de dizer que Passos Coelho quis eleições no país para não ser apeado de presidente do seu partido. Se supõem que PS, PSD e CDS podiam estar a trabalhar em conjunto para executar o memorando, por que razão não disseram na altura que PS, PSD e CDS podiam ter trabalhado juntos para concretizar o PEC IV?
Definitivamente, o partido dos comentadores entrou para a coligação FMI-PSD, mas esqueceram-se de avisar...
(Claro, não interessa nada a esses senhores que, do lado da troika, se diga que não há sobressalto nenhum quanto ao cumprimento do memorando.)
passos em falso
Passos Coelho ontem "declarou" que a troika quer outro governo, quer dizer, um governo com outros partidos, quer dizer, um governo dele Passos Coelho. E, segundo ele, a troika só não diz isso preto no branco porque não pode ir tão longe. Tirando o facto de se tratar de mais uma leitura "apressada" que Passos Coelho faz de coisas que "ouve" com pouca atenção (veja-se que estou a ser bastante benévolo, nem o comparo com o mentiroso Marcelo nem nada), cabe perguntar: que ideia faz Passos Coelho de um povo que, julga ele, determina o seu voto pela suposta "opinião" dos emprestadores? Achará que já nos vendemos todos?
30.5.11
ideias demasiado boas
As ideias demasiado boas às vezes são perigosas. Elas têm pernas e se as deixamos andar por aí podem fazer em cacos muitas coisas importantes. Em boa verdade, historicamente, é mais a esquerda utópica a ter responsabilidades por ter lançado para o mundo ideias demasiado boas que depois deram aborrecimentos. A direita, pelo menos na versão conservadora, é mais de tentar travar qualquer ideia boa, até por normalmente as ideias boas serem especialmente boas para quem não está tão instalado nas coisas boas.
Isto não é da minha parte um puro exercício de lengalenga. Vem a propósito de uma das tais ideias boas que Boaventura Sousa Santos apresenta no seu recente livro "Portugal - Ensaio contra a autoflagelação".
Reza assim, a páginas 104, quando está a dar ideias para fazer florir a democracia participativa, e destaca algumas das que terão dado melhores resultados em outras aragens, outras paragens, entre outros povos:
«(...) fiscalidade participativa em que, acima de um certo patamar de financiamento de serviços do Estado, os contribuintes possam vincular parte dos impostos que pagam ao financiamento de certos serviços (por exemplo, saúde, educação, transportes públicos) ou à proibição de serem utilizados para o financiamento de certos serviços (por exemplo, compra de material de guerra, participação em acções bélicas, energia nuclear).»Interessante, não é? À luz de certos debates políticos recentes, imagine-se como seria se os contribuintes portugueses pudessem, digamos, exigir que os seus impostos não fossem usados em unidades do SNS onde se faça a interrupção voluntária da gravidez.
Acho que a democracia participativa, aliada à democracia representativa, tem as suas potencialidades - mas, usada como uma espécie de democracia à la carte, em que cada um pode escolher o que quer comer sem cuidar de não atropelar a vida comum, pode ser problemática. Particularmente, pode ser uma forma de promover a permanente guerra civil de todos contra todos.
Acho que vale a pena reflectir com cuidado em tão boas ideias.
29.5.11
mais uma mentirola de Marcelo
Marcelo Rebelo de Sousa, na sua habitual homilia dominical, prossegue a desinformação, numa espécie de super-tempo de antena (mal) disfarçado. Acabou há poucos minutos de dizer que as propostas do PSD para a Educação vão na linha do que exige o Memorando com a troika e que o PS mente quando dá a ideia de que vai continuar a defender a escola pública.
Vamos lá ler então o ponto pertinente do Memorando de Entendimento:
«1.8.Reduzir custos na área de educação, tendo em vista a poupança de 195 milhões de euros, através da racionalização da rede escolar criando agrupamentos escolares, diminuindo a necessidade de contratação de recursos humanos, centralizando os aprovisionamentos, e reduzindo e racionalizando as transferências para escolas privadas com contratos de associação.»
Marcelo Rebelo de Sousa, tome nota: ser militante do PSD não o devia obrigar a continuar a mentir, como tantas vezes faz no seu regabofe televisivo, mesmo quando isso é manipulação em tempo eleitoral. Diz o povo, com razão: quem não tem vergonha, todo o mundo é seu.
uma união nacional de ódios
Dos jornais:
Já quase no final da sua intervenção, a ex-líder [Manuela Ferreira Leite] dirigiu-se directamente ao presidente do partido: “Passos Coelho vai desculpar-me, mas eu não ando à procura de um outro primeiro-ministro, ando à procura que o engenheiro Sócrates saia de primeiro-ministro e ele só sairá de primeiro-ministro no dia em que o PSD tiver mais votos que o PS”.À Dra. Manuela continua a só interessar o seu pequeno ódio contra Sócrates. A tal ponto que diz na cara a Passos Coelho que ele é apenas instrumental para esse pequeno serviço, que qualquer um servia desde que se tirasse de lá Sócrates. Pudera, ainda há menos de dois anos a Dra. Manuela, então presidente do PSD, nem deixou Passos Coelho ser candidato a deputado, como havia ela de estar entusiasmada com a candidatura do senhor a primeiro-ministro...
“Nem tranquila fico se ele ficar na oposição, porque acho que ele na oposição vai ser tão pernicioso para o país quanto na liderança do país”, disse a ex-líder do PSD.
28.5.11
antigamente, os senhores batiam nos criados
Agora, os poderosos gozam com os que têm de fazer pela vida.
Em Vila Real, uma jovem, que frequentou um curso das Novas Oportunidades, furou a barreira e foi agradecer a Passos Coelho ter-lhe chamado ignorante.
Passos Coelho respondeu-lhe: "“Espero que o seu curso lhe sirva para muito, está bem?". Como quem diz: "Boa porcaria, rapariga."
O senhor dr. em economês acha bem gozar com a cara de uma pessoa que não teve, talvez, tanta sorte como ele e teve de aproveitar uma "nova oportunidade", coisa que não parece bem a quem pode dar-se até ao luxo de desperdiçar oportunidades.
Deve ser a fenómenos como este que Boaventura Sousa Santos chama "fascismo social". Eu chamo-lhe, mais prosaicamente, a repugnante mesquinhez de quem vê as pessoas pelo filtro das suas ideias com a longevidade de uma campanha.
(Vídeo roubado ao Miguel.)
a novela das duas versões do acordo com a troika
O mais recente caso de inventona política contra o PS é a história das duas versões do Memorando de Entendimento assinado entre Portugal e troika para viabilizar o empréstimo. Passos Coelho anda demasiado ocupado com os comícios e tem falta de tempo para pensar: afirma que não sabia de nada, que não conhecia a versão final do Memorando, que é uma surpresa. É pena: se até a versão em português do Memorando está disponível publicamente há uma semana, na sua versão definitiva, o facto de Passos Coelho ainda não se ter dado conta só mostra que anda a descurar os assuntos principais, não faz o trabalho de casa (já se tinha percebido) e é irresponsável (afirma que vai cumprir tudo, apesar de dizer que não sabe o que lá está escrito). Que haja um coro de comentadores e jornalistas a fazer a mesma conversa, enfim... já sabemos que a produtividade de certos trabalhadores é muito duvidosa.
Entretanto, Passos Coelho está a dizer na TV que as suas "fontes europeias" lhe garantem que o ECOFIN (Conselho de Ministros das Finanças da UE) não introduziu alteração nenhuma no texto do Memorando de Entendimento. Manifestamente, as fontes europeias de PPC andam a gozar com ele: de facto, o texto ainda estava a sofrer ajustamentos poucas horas antes de o ECOFIN aprovar, no passado dia 16, o empréstimo - mas, quando chegou à mesa da reunião, estava fechado. Foi este truque de linguagem que as "fontes europeias" de Passos usaram para brincar com ele? E ele foi na conversa?!
27.5.11
a teoria da democracia segundo Raposo
Segundo Henrique Raposo, boicotar um acto de campanha eleitoral do PS é, por definição, um acto democrático. Todos têm direito à manifestação, mesmo que não respeitem os requisitos legais para se manifestarem. Parece que, segundo Raposo, os direitos são uma espécie natural: não têm regras, não têm de ser coordenados com os outros, não implicam respeito pelos outros direitos das outras pessoas. Eu tenho direito à saúde, logo posso passar à frente de toda a outra gente que espera na fila para ser tratada. Melhor: posso raptar a médica e o enfermeiro e levá-los para casa para me tratarem já e a meu gosto. Na democracia segundo a teoria de Raposo todos têm direito incondicionado à manifestação - todos menos o PS. O PS só tem direito a ser boicotado. A teoria Raposiana da democracia é um vómito.
(À atenção de Henrique Raposo: é pertinente falar em fascismo, sim senhor. O fascismo também usou "o direito" dos seus capangas à "manifestação" para habituar os "maus" a deixarem-se de aparecer em público.)
um fraco
O líder do PSD lamentou profundamente, esta manhã, o que aconteceu na campanha do PS em Faro, mas condenou o recurso à violência sobre a manifestação.
Uma acção de campanha eleitoral do PS foi atacada por uma manifestação ilegal, uma demonstração de selvajaria que recorrentemente toma o PS como alvo.
Passos Coelho, em vez de condenar o boicote ilegal contra uma acção de um partido concorrente às eleições, condena a "violência" sobre os boicotantes.
Provavelmente, Passos Coelho entende que Sócrates deveria ter-se oferecido para ser agredido pelos boicotantes, para eles irem para casa mais contentes. Ou, no mínimo, deveria ter mandado servir-lhes bolinhos.
Alguém explica a Passos Coelho que democracia não é o direito a atacar os outros, quando os outros participam, dentro da lei, na preparação de umas eleições?
Louçã e o contrabandista de porcos
Francisco Louçã, ontem, na Incrível Almadense, contou uma anedota. Bem contada. E com uma moral. Ou mais.
É a história de um contrabandista de porcos na raia de Portugal com Espanha.
O que Louçã quer dizer é que os partidos que assinaram o Memorando de Entendimento fazem de conta que não sabem o que lá está dentro. Quando lhes mostram, espantam-se: "Credo, um bicho!".
Pois, se o PSD e o CDS ganharem as eleições, embalados pela campanha do BE e do PCP a fazerem de conta que o PS fará no governo o mesmo que a direita, é bem provável que Louçã venha depois, perante as políticas de Passos e Portas, a exclamar, como se não soubesse de nada, o mesmo que o seu contrabandista de porcos: "Credo, um bicho".
26.5.11
Diário da Mulher Aranha
Os esquecidos insistem que foi a mania de Sócrates em despender que levou Portugal à crise. Claro, mais nenhum, insisto: nenhum, mais nenhum país está com a corda na garganta, a ser atacado pelas agências de rating e em enormes dificuldades económicas. Só os países governados por Sócrates, claro. Não foi a crise internacional, não foi a UE que tinha uma estratégia (gastar para contrariar a crise) e depois mudou de rumo (cortar, acelerando a crise, mas respondendo antes de mais aos mercados financeiros). São os maníacos dos socialistas que inventam estas coisas.
Pois.
"As derrapagens orçamentais são consequência do declínio drástico das receitas fiscais e das crescentes despesas sociais, como os subsídios de desemprego. Os governos vêem-se forçados a ir aos cofres públicos para fomentar o crescimento e o investimento e, deste modo, lutar contra a pior recessão económica desde a 2ª Guerra Mundial." (Retirado dum comunicado da Comissão Europeia de 24 de Março de 2009.)
"Face à ameaça de recessão, o Conselho considerou que as regras da UE sobre os défices orçamentais, que limitam a dívida pública a 3% do PIB, devem ser aplicadas por forma a reflectir as actuais «circunstâncias excepcionais».( Outro comunicado da Comissão Europeia, de Outubro de 2008.) De acordo com as circunstâncias excepcionais, quer dizer: com liberalidade.
Mas, claro, o Conselho e a Comissão Europeia estão pejados de clones de Sócrates. É sabido.
(Citações roubadas à Sofia C., Diário da Mulher Aranha.)
sim, quem não conta com a Europa na equação da nossa crise está terrivelmente enganado
Uma pessoa publica uns números, que parecem mostrar certas coisas que andam um pouco olvidadas: um serviço aos esquecidos. O Miguel Noronha, como não gosta dos números, fala como se os números não existissem (o que não cola com a tese dele, não existe: e chama os primos e os enteados para dizerem o mesmo que ele, como se isso mostrasse que ele tem razão). Uma pessoa ainda se esforça por conversar, mas o Miguel Noronha, convicto de que a profundidade da nossa memória acaba no dia de ontem, insiste na fumarada artificial: confunde um texto humorístico com um argumento. Insisto, porque não levo a mal que outro digam piadas: até é giro vê-los brincar com coisas sérias enquanto forem só blogueiros.
Mas, para desbloquear um bocadinho a conversa, trazemos ao Miguel Noronha mais um exemplar do que ele chama, com graça mas sem substância, "Alfama School of Economics". Trata-se do presidente do BES Investimento.
«Embora com algumas nuances, tendo a ter a mesma opinião do eng José Sócrates. As minhas razões são técnicas e não políticas e nem sequer digo que se o PEC IV tivesse sido viabilizado não chegaríamos ao PEC V! O que sucede é que os alemães, bem como uma parte importante dos outros países, preocupados com o risco do contágio da má situação dos países periféricos - veja-se a evolução da Grécia e da Irlanda! - tinham aberto a oportunidade de outra ajuda, a dita flexibilização do Fundo. Ninguém negou que fosse uma ajuda mas era mais mitigada, havia a chance de um auxílio um pouco diferente. O medo do contágio abrira essa possibilidade. E a maior diferença para a situação actual é que os mercados continuariam, eventualmente, abertos. Com taxas altas, mas abertos. O facto de termos inviabilizado isso precipitou um corte sucessivo dos ‘ratings' da República e dos bancos e houve o pedido de assistência financeira. Ninguém de boa fé pode afirmar que a viabilização do PEC IV impediria a ‘troika' em Portugal, mas ganhar-se-ia algum tempo. E na crise que estamos a viver na Europa e no mundo, ganhar algum tempo poderia ser positivo.»José Maria Ricciardi, aqui.
À atenção de Miguel Noronha (que, provavelmente, dirá que o presidente do BES Investimento não usa as gravatas com o padrão adequado a que as suas opiniões possam ser tidas em conta. Aliás, por definição, qualquer opinião que não corrobore a opinião de MN é uma mera opinião. As outras opiniões são, evidentemente, factos num céu estrelado.)
as Monumentais
Para que conste: posso não gostar de que tenham pintado as Monumentais, mas acho que a barulheira feita à volta disso é bastante exagerada. Acho que já vi as Monumentais "decoradas" outras vezes, sem tanto drama. E desta vez acho que a reacção é contra a presença de partidos no espaço público, como se a mensagem política fosse um nojo e devesse ficar-se pelos cantos. Repito: sem prejuízo de achar que as Monumentais ficavam mais bonitas sem pintura, parece-me que a estética nem sempre pode ser o primeiro critério.
25.5.11
A New Scientist quer descobrir a melhor frase para ser dita quando o Homem chegar a Marte
Acho que o primeiro a sair deve perguntar: "Pode-se fumar aqui?".
Num planeta estranho, essa pergunta vale por um inquérito sociológico.
(Se ganharem o prémio com a minha frase, não se esqueçam de pagar um café.)
perguntam aos especuladores
Há uma série de "companheiros de estrada" da blogosfera que, com mais ou menos piada, insistem na tese de que a crise política precipitada pelo PSD, com a amável contribuição dos restantes partidos da oposição, não teve nada a ver com a embrulhada financeira que levou ao pedido de "ajuda externa". Nem comentam os números, acham suficiente citar opiniões que dizem o contrário dos números. A ideia é a do costume: se há economistas para citar, se até se pode citar o governador do Banco de Portugal, o tal que esconde o brasão para parecer mais independente do que realmente é, não interessam nada os números.
Há uma via alternativa: podiam perguntar aos porta-vozes dos próprios especuladores. No próprio dia da rejeição do PEC IV no Parlamento, a Fitch cortou o rating da República. E explicou-se: «O corte do "rating" é justificado com a crise política em Portugal, depois de o chumbo do PEC, ontem no Parlamento, ter provocado a demissão do Governo. “A revisão em baixa reflecte os riscos acrescidos em torno da implementação das políticas e do financiamento do défice à luz da inviabilização, pelo Parlamento português, das medidas de consolidação orçamental e da demissão do primeiro-ministro”, argumenta Douglas Renwick director da Fitch para o "rating" de soberanos.»
É sabido que é José Sócrates quem escreve o que dizem os directores das agências de rating...
andar a ler o ensaio contra a autoflagelação
Boaventura Sousa Santos (BSS) acaba de publicar mais um livro, este intitulado Portugal - Ensaio contra a autoflagelação. É uma espécie de livro de campanha, porque serve de conforto intelectual para a campanha da esquerda da esquerda, particularmente a do BE. Isto não é uma crítica: tomáramos nós que todas as forças políticas estivessem cheias de pessoas a escrever coisas argumentadas para defender as suas posições.
Um dos temas fortes deste livro cai como sopa no mel do tema da renegociação da dívida, que Louçã acha que já é uma grande vitória da sua campanha. Discordo disso, como já expliquei. De qualquer modo, BSS, não andando por aí a fazer comícios, sempre respeita a obrigação de não ignorar olimpicamente certos aspectos dos problemas. Iremos dando por aqui algumas notas do que escreve neste livro. Por hoje, ficamos com esta pequena citação (pp. 95-96):
«A reestruturação da dívida não é uma solução milagrosa, sem custos. Poderá envolver a suspensão do serviço da dívida, ou seja, a suspensão temporária do pagamento dos juros, que neste momento representam cerca de 4% do PIB, e das amortizações. A consequência poderá ser o bloqueio temporário dos mercados financeiros e o recurso a empréstimos bilaterais de países que acreditem na nossa capacidade de recuperação económica. No entanto, a suspensão do serviço da dívida permitiria libertar recursos que assegurassem o funcionamento do Estado ao longo do período das negociações.»
BSS tem o mérito de reconhecer que a iniciativa unilateral de Portugal para entrar em regime de "não pagamos, não pagamos" nos deixaria em estado de emergência. Supõe que várias coisas poderiam acontecer para amortecer a dor - mas tem o bom senso de não dar por adquirido que esses amortecedores passariam do mundo possível ao mundo real. É pena que os líderes políticos da esquerda da esquerda não sejam tão explícitos a assumir o elevado grau de risco que uma cartada destas representaria para o país. Mas compreende-se: teriam, então, de assumir que uma saída destas só não é suicida se for executada no quadro da União Europeia, ligada a uma estratégia regional para reganhar soberania face aos mercados.
Mas esse era o carrinho que o governo estava a tentar apanhar quando a coligação negativa precipitou a crise política e nos entregou ao forrobodó especulativo (como Boaventura bem explica).
somos todos parvos, ou quê ?!
Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheira (respectivamente, ex-director e ex-director adjunto do Teatro Nacional D. Maria II) e a dramaturga Margarida Fonseca Santos, andam a ser julgados no Tribunal Criminal de Lisboa. Respondem à acusação de ofensa e difamação da memória de Silva Pais, o último director da PIDE. A sua culpa é o seu envolvimento na peça "A Filha Rebelde", uma obra de ficção sobre Annie da Silva Pais, filha única do Major. Dois sobrinhos do senhor acham que foi manchada a memória do figurão - e por isso foram para tribunal. Pensarão ser tão cândidos como o próprio chefe dos esbirros, que vemos no documentário abaixo a contar histórias da carochinha, como se fossemos todos papalvos?
Excerto de Deus, Pátria, Autoridade (1975), de Rui Simões
quando uma certa direita tem saudades de Ferro Rodrigues
As pessoas que não têm especial simpatia por partido nenhum pensam que os simpatizantes são uns carneiros. Que são todos iguais e dormem todos na mesma cama. Não é, de todo, esse o caso. Eu, para dar um exemplo, nem para beber uma cerveja quereria descer ao Rossio na companhia de José Lello. Já, bem pelo contrário, considero Ferro Rodrigues um dos grandes Políticos deste país, quer em termos de preparação para governar, quer em seriedade intelectual e pessoal. É, por isso, particularmente curioso ver "certa direita" com uma certa "nostalgia" do seu tempo à frente do PS. Eles lá sabem... ou não.
24.5.11
Governantes em gestão continuam a nomear membros de gabinetes
É uma notícia verdadeira: Governantes em gestão continuam a nomear membros de gabinetes. Mas é uma notícia de 2005, do último (em data) governo liderado pelo PSD.
De modo completamente diferente, o actual governo tomou medidas estritas para que isso não acontecesse. É por isso que é justo dizer que a calúnia de Passos Coelho, ontem, sobre essa matéria, ou é ignorância ou é má-fé. Se foi "apenas" por ignorância, curial seria pedir desculpa pela atoarda. Contudo, é pouco provável que tenha sido "apenas" ignorância, dado o chorrilho de insultos que vários dirigentes do PSD têm lançado sobre Sócrates, na modalidade laranja de "campanha elevada": Catroga comparou-o com Hitler, Morais Sarmento com o ministro da propaganda de Saddam, José Luís Arnaut com Drácula.
o dr. Lobo Xavier anda com os partidos trocados
Lobo Xavier liga 'submarinos' a desespero do PS. «António Lobo Xavier considera que é o desespero que leva o PS a lançar contra Paulo Portas o "recorrente ataque" dos submarinos.»
Olhem aqui o PS a trazer os submarinos à baila:
Estes submarinos são mesmo de lata.
ruído - uma coisa que Claude Shannon poderia ensinar a certos blogueiros
Quando se dão números, como fiz no post anterior, esperam-se duas reacções da parte de quem não gosta daquilo que eles significam. Uma, consiste em discutir (contestar) os números. Outra, é fazer de conta que os números não existem e lançar poeira: insistir na opinião que ignora os números a ver se as pessoas se esquecem dos números e pensam só na opinião. Esta última "técnica" é muito típica de uma certa blogosfera.
(Já que aqui estamos, um recado para o Miguel Noronha: a intenção do meu post anterior não era conversar com os negacionistas: não tenho o mais pequeno interesse em "diálogos" com quem usa como método de "argumentação" negar a realidade. Aquele meu post é um ponto de partida para uma análise das teses de Boaventura naquele livro. Não concordo com muitas delas, mas são teses que - contrariamente aos posts do Miguel Noronha, e aos meus próprios posts - vão estar em discussão em toda a Europa nos próximos meses.)
um serviço aos esquecidos
Passo a citar Boaventura de Sousa Santos, no seu recente livro Portugal - Ensaio contra a autoflagelação (Almedina), à página 95.
«Não restam dúvidas de que os montantes dos juros da dívida soberana de Portugal a partir do momento da queda do actual governo foram usurários. Possivelmente foram também manipulados para forçar uma solução política em Portugal e na Europa. (...)
Vejamos a sucessão frenética da despromoção da dívida soberana sem qualquer ligação à situação da economia real.
Evolução dos ratings da dívida soberana entre a queda do governo e o pedido de "resgate"
24 de Março Fitch A+ para A- 25 de Março S & P A- para BBB 29 de Março S & P BBB para BBB- 1 de Abril Fitch A- para BBB- 5 de Abril Moody's A3 para Baa1
Fim de citação.
Entre 24 de Março (o dia seguinte da rejeição do PEC IV no parlamento) e 5 de Abril (a véspera do pedido de resgate pelo governo português) todas as agências de notação baixaram abruptamente o rating da república portuguesa para níveis próximos de "lixo". De 23 de Março a 6 de Abril os juros da dívida portuguesa a 2, 5 e 10 anos aumentaram 2.3, 1.5 e 0.9 pontos percentuais. Nas semanas seguintes continuaram a aumentar a um ritmo semelhante.»
Acrescento: aos negacionistas.
Imagens: pormenores de "Desfiladeiro", de Carlos No.
22.5.11
um autarca que se lembra mal da história recente de Portugal
O autarca [Fernando Costa] comparou o início da campanha oficial [do PSD] nas Caldas da Rainha com os militares que saíram do regimento da cidade, a 16 de Março de 1974, para "arrancarem para a grande vitória que foi o 25 de Abril". "Hoje, Passos Coelho vai arrancar das Caldas para uma maioria absoluta". O que Costa não disse é que a coluna dos militares foi derrotada pelo regime e o movimento vitorioso só aconteceu um mês depois, a 25 de Abril.
Antes, Fernando Costa dissera umas coisas sobre Paulo Portas: "Eu não estou em clientelas nenhumas, nem na dos submarinos, nem na dos sobreiros." Mas dessa parte Passos Coelho não gostou, porque a "política de verdade" só gosta de verdades convenientes.
renegociar a dívida como tema de campanha eleitoral
Renegociação da dívida é a “maior vitória política do Bloco até hoje”.
A quem pensava que a coligação negativa tinha chegado ao fim dos seus dias com o derrube do governo, esta campanha eleitoral demonstra que está longe de se esgotar a imaginação criadora da esquerda da esquerda e da direita para inventarem tenazes com que, tacticamente, se juntam para atacar o PS.
Talvez com mais subtileza do que em outras ocasiões, BE e PSD inventaram um tema comum: a renegociação dos termos das nossas responsabilidades financeiras colocadas no mercado internacional. Louçã já se vangloria, não só de que o tema da renegociação da dívida entrou na campanha, mas de que agora muitos o imitam na sua tese. Nisso, ele tem razão: Passos Coelho, por exemplo, agora já fala em mudar prazos e montantes do empréstimo internacional, para tornar tudo mais suave. Em modo subliminar, tanto Louçã como Coelho, estão a tentar transmitir a seguinte mensagem: o governo do PS assinou um mau acordo com as instâncias internacionais e nós (PSD ou BE) vamos mudar isso se votarem em nós. Esquecem-se, de passagem, de várias coisas "pequenas": por exemplo, de que foram eles que fizeram com que a "ajuda do FMI" fosse negociada com um governo de gestão, em período pré-eleitoral, e por isso mesmo com menos margem de manobra para fazer finca-pé em contrapropostas às ideias da troika. Mas esquecem-se, também de passagem, de um factor gigantesco: o factor Europa. Vejamos.
Uma das razões pelas quais o governo português queria evitar, ou pelo menos atrasar, o pedido de ajuda externa consistia na percepção de que Portugal seria o primeiro beneficiário de uma nova estratégia da UE e da zona euro, que optasse por uma protecção mais eficaz de todos os seus membros face aos ataques especulativos. Essa nova estratégia, quer da UE quer do FMI, permitiria ou evitar a necessidade de ajuda, ou fazer com que as condições da ajuda tivessem menos efeitos recessivos e fossem mais amigas do crescimento. Esse percurso político na cena europeia estava a ser feito - mas devagar, por haver outros governos que, à beira de eleições, não queriam aprofundar esse tema junto dos seus eleitorados. O chumbo do PEC IV, com a consequência do derrube do governo, teve também a intenção de evitar que essa espera táctica desse resultado: se isso salvasse Portugal da ajuda externa, ou tornasse a ajuda externa mais doce, esse facto salvaria também Sócrates - e isso era algo que as oposições de todo não queriam.
Quer dizer: o ponto é que a margem de manobra de Portugal depende das condições da nossa inserção na Europa. Não é Portugal, isolado, que vai impor melhores condições para a ajuda ou uma ajuda em moldes mais amigáveis para o crescimento: isso só pode acontecer num movimento em que o conjunto da UE mude de estratégia. A mesma coisa tem de se dizer de uma eventual renegociação da dívida: se Portugal lançar a ideia de que vai tentar fazer esse movimento sozinho, por sua alta recriação, vai ser tratado como um pária na cena internacional e vai pagar isso muito caro. Isso pode vir a tornar-se possível, em condições aceitáveis, no quadro de uma mudança de estratégia da Europa e do FMI.
É aí que bate o ponto: tanto Louçã como Passos Coelho fazem crer, demagogicamente, que as nossas relações com o mundo da finança e da economia internacional dependem do nosso voluntarismo nacional. Nós abrimos a boca e dizemos o que queremos e o mundo concede-nos. Louçã, que sempre falou como se nós pudéssemos simplesmente dizer "não pagamos", apesar de isso fechar imediatamente a torneira do financiamento sem o qual não vivemos, sofisticou agora um pouco a sua posição: está a dizer coisas parecidas com o que dizem outros responsáveis internacionais, na medida em que está em cima da mesa repensar prazos e taxas das dívidas, de modo a deixar respirar a economia e permitir que o remédio não mate o doente. Falta a Louçã, contudo, reconhecer um ponto fundamental: isso só é viável se o fizermos apoiados nos nossos parceiros, no quadro de uma estratégia europeia, provavelmente incluindo mesmo uma nova orientação do FMI, e nunca será viável numa posição "nós sozinhos contra o mundo". Passos Coelho, esse, depois de o seu partido ter reclamado que o acordo com a troika era bom graças ao PSD, vem agora ter ideias brilhantes que não teve a tempos das negociações, como se há quinze dias atrás ainda não fosse líder do PSD e candidato a PM.
Tanto o PSD como o BE estão a jogar a cartada de esconder que tudo passa pela nossa qualidade de participantes na Europa. Podem chamar-lhe perda de soberania, se assim o entenderem: não façam é de conta que esse factor não conta. Não há mentira mais pesada, hoje em dia, do que fazer crer ao eleitorado que Portugal pode fazer o que bem entender no que toca à sua dívida, seja face aos mercados, seja face às instituições a que pertencemos. E essa grande mentira está em marcha, uma vez mais juntando o BE e o PSD como pinças diferentes de uma mesma tenaz.
21.5.11
sim, os vampiros são mamíferos
Eduardo Pitta, Vinte mamíferos. Mil empresas:
«... existem em Portugal 20 pessoas colocadas nas administrações de mil empresas diferentes. Cada uma dessas pessoas ocupa, em média, 50 cargos. A mais bem paga aufere 2,5 milhões de euros por ano.»
nem só com photoshop se reescreve a história
Passos Coelho é um cândido. Tem uma impressionante capacidade para viver em dois mundos ao mesmo tempo. Pode ouvir ler um excerto do programa eleitoral do seu partido e continuar a falar como se esse programa não existisse, como se tal citação fosse uma invenção, como se proferisse um "não liguem, o programa não interessa, acreditem em mim". E tem também uma enorme capacidade para reescrever a história do seu próprio posicionamento político em matérias essenciais. Um exemplo.
Passos Coelho desde há algum tempo que trata de tentar passar a ideia, quanto ao pedido de ajuda externa, de ter com muita clarividência antevisto que ele deveria ter acontecido mais cedo, porque isso teria sido mais benéfico para o país. Segundo esta tese de PPC, a teimosia do governo do PS é que impediu que tivéssemos mais prontamente dado esse passo salutar. Ora, na verdade, ainda em Janeiro deste ano, Passos Coelho associava um eventual pedido de ajuda externa a uma necessária crise política. Em entrevista ao DN e à TSF, Passos Coelho dizia que se o FMI entrasse em Portugal teria de haver eleições e um novo governo.
É verdade que a entrada do FMI e a crise política estiveram ligadas: foi a crise política liderada pelo PSD que destruiu, em poucos dias, a resistência tenaz à voragem dos mercados e tornou inevitável, no imediato, o pedido de ajuda. Mas não era essa a ligação proclamada por Passos Coelho em Janeiro: nessa altura, Passos Coelho escrevinhava a factura a apresentar: "O eventual recurso ao FMI não pode deixar de ter consequências políticas". Especificamente, dizia que o recurso ao FMI, representando um fracasso do governo, implicava um novo governo e que isso só seria possível com eleições.
Quer dizer: PPC empurrava o Governo contra a parede, dizendo que se chamasse o FMI teria de se ir embora; mas agora quer fazer-nos crer que andou candidamente a aconselhar que seria bom para todos chamar o FMI mais cedo do que tarde. Até se compreendia que tivesse proposto um procedimento à irlandesa: chamamos o FMI, negociamos e fazemos o acordo, depois vamos para eleições. Não foi nada disso o que fez, contudo. Primeiro, identificou a vinda do FMI como causa de queda do governo; depois, como isso não aconteceu, fez cair o governo e, então aí, abriu definitivamente as portas ao FMI. E agora anda a reescrever a história, como se ainda em Janeiro não tivesse dito "se chamarem o FMI serão despedidos".
Mas, claro, isto foi em Janeiro: uma eternidade para um homem que consegue mudar de opinião em menos de 24 horas.
com bombeiros destes temos incêndio garantido
Em destaque no Expresso de hoje, a seguinte declaração de Passos Coelho, é um tratado de política à moda dos tempos que correm: "Era importante que o CDS dissesse que não está disponível para integrar qualquer governo que tenha o PS." Quer dizer: o homem que quer ser PM de Portugal acha que a boa maneira de preparar o futuro é tentar fechar possibilidades dentro do panorama político actual.
20.5.11
custos de oportunidade de pernas para o ar
A ideia que se transmite às pessoas é que das próximas eleições sairá, inevitavelmente, um governo dos partidos que se encontraram com a troika. Parece que só falta decidir quem será o califa e quem será o grão-vizir.
Vale a pena reflectir que voltas deu a nossa democracia para se ter chegado a um ponto destes. Em particular, por que caminhos se andou para não ser concebível um governo do PS com partidos à sua esquerda. Que as culpas têm muitos accionistas, já sabemos. Que não pareça haver recursos suficientes para eliminar essa restrição ao nosso sistema político, é que me parece de lamentar.
Está-se mesmo a ver, entretanto, quem pode ser o beneficiário líquido desta situação. Os que já fazem fila para comprar as partes doces das empresas públicas sabem bem o que é uma oportunidade. E não a perderão.
uma cambada de infiltrados
Aquela brincadeira de Passos Coelho ser um infiltrado do PS para lançar a confusão no PSD? Não deve ser caso único.
Pegando em "informações" disponíveis, o 31 da Armada sugere uma terrível marosca socialista, envolvendo Sócrates (obviamente!!!) e a câmara socialista da Covilhã. Dizem eles: «Mais uma "habilidade" socialista, envolvendo Sócrates, a câmara socialista da Covilhã e uma obra pública.» Claro, nem se dão ao trabalho de demonstrar a "culpa" de Sócrates na coisa. Mas isso é o costume: basta sugerir e deixar correr a louça, o mal está feito.
Desta vez a coisa até tem mais piada. A ligeireza é muita. A "câmara socialista" da Covilhã... é uma "câmara PSD". Lá está: mais um socialista infiltrado no PSD.
(novela pescada nas águas do Miguel)
Coimbra
Transcrevo:
A Âncora Editora e o Teatro Académico de Gil Vicente têm o prazer de convidar V. Exª para a sessão de apresentação do livro Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais, de Porfírio Silva.
A obra será apresentada por José Castro Caldas, investigador no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
A sessão terá lugar no próximo dia 20 de Maio, sexta-feira, pelas 18 horas, no Teatro Académico de Gil Vicente, na Praça da República, em Coimbra.
um espírito científico
Colecção de filmes pornográficos encontrada na casa de Bin Laden.
O homem queria saber do que falava quando fazia as suas críticas. Nada mais natural !
(Ai não é essa a explicação?!)
18.5.11
a palhaçada não é a arma do povo
A noção do que uma campanha eleitoral deve representar em termos de dignidade e responsabilidade cidadã está manifestamente em crise. Vieram dos políticos os primeiros maus exemplos: desde que a demagogia se tornou banal e o insulto, a coberto da política, o pão nosso de cada dia. Talvez a coberto disso veio a ideia de que, em nome do "humor" político, se podem atacar as acções de campanha eleitoral com impunidade. Primeiro foi a "esquerda", com os "homens da luta" a boicotarem a campanha de partidos que não lhes caíam no goto, como se tivesse piada e fosse normal. Agora é a "direita" a usar os mesmos expedientes, com a mesma pretensão ao "humor" e à impunidade.
Estão à espera que venham bandos nazis atacar as acções de campanha eleitoral, também a coberto do "humor político", para se aperceberam da irresponsabilidade destas acções?
fast-food ético
Novas Oportunidades: "Uma espécie de fast-food escolar", diz Carrilho.
Há pessoas tão desesperadas que roubam para comer.
Há pessoas tão esfomeadas que comentam, comentam, comentam, para sobreviver... na sociedade do espectáculo.
o facilitismo em perspectiva
Ninguém abomina mais do que eu o facilitismo. Mas também abomino a conversa da treta sobre facilitismo. A conversa que por aí vai sobre facilitismo nas Novas Oportunidades bem podia ser colocada em perspectiva.
Desde logo, uma formação elementar em lógica deveria fazer compreender que o argumento "eu conheço uns casos de facilitismo" não é argumento para ajuizar de um programa. Em primeiro lugar, porque "uns casos" não é base para avaliar o que se passa em centenas de milhares de casos. Na verdade, muitos dos casos invocados de facilitismo são de ouvir dizer. Depois, porque quem assim fala pressupõe, com demasiada facilidade, que tem competência (e informação correcta) para avaliar o que é e o que não é facilitismo. É típico: "ELES são todos uns ignorantes, EU é que os topo".
Valeria a pena, para colocar em perspectiva, fazer o paralelo seguinte. Aqui há uns anos, Portugal quase não dava equivalências a doutoramentos realizados no estrangeiro, e as que dava eram o cabo dos trabalhos (comissões complicadas, tempo infindo para analisar o objecto). Havia o reconhecimento propriamente dito e havia, separadamente, a equivalência. Podia percorrer e chegar ao cabo do calvário do reconhecimento ("toma lá, és doutorado"), mas, mesmo assim, sem equivalência, que estava dependente de uma comparabilidade relativamente forte com alguma coisa que existisse entre nós, o "ser doutor por extenso" podia não ser mobilizável, por exemplo, para prosseguir uma carreira docente decente no ensino superior. Argumento, claro: a qualidade. Era para preservar a qualidade! Não queremos cá doutoramentos que não satisfaçam os altíssimos critérios da academia nacional, que é a melhor do planeta e arredores.
Algumas vezes (as mais das vezes?), estes mecanismos têm uma explicação muito aborrecida: há sempre os que, estando do "lado de dentro do sistema", arranjam a desculpa do facilitismo para evitar que outros cheguem ao mesmo sítio.
Que tal vermos tudo isto em perspectiva?
convite
Transcrevo:
A Âncora Editora e o Teatro Académico de Gil Vicente têm o prazer de convidar V. Exª para a sessão de apresentação do livro Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais, de Porfírio Silva.
A obra será apresentada por José Castro Caldas, investigador no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
A sessão terá lugar no próximo dia 20 de Maio, sexta-feira, pelas 18 horas, no Teatro Académico de Gil Vicente, na Praça da República, em Coimbra.
17.5.11
a ver quem inventa mais disparates sobre as Novas Oportunidades
Miguel Sousa Tavares estava agora mesmo ali numa TV a comentar, que é uma coisa que ele faz, suponho, para ganhar a vida. Sobre a polémica das Novas Oportunidades, dá uma no cravo outra na ferradura, diz que o debate parlamentar pedido pelo PS não serve para nada e propõe o seu método "para esclarecer a questão".
O método MST para avaliar as Novas Oportunidades seria assim: convocar aleatoriamente 50 ou 100 diplomados pelas Novas Oportunidades e fazer-lhes um exame, a ver quem passa. MST acaba de resolver o problema da avaliação dos sistemas de educação e formação. As organizações internacionais que se esforçam continuamente por avaliar cada vez melhor os sistemas, como a OCDE, podem poupar muito dinheiro: fazem uns exames, a uma amostra ridícula e já está. (Sim, uma amostra ridícula: MST fará alguma ideia da diversidade de situações de formação abrangidas pelas Novas Oportunidades? Pensa ele que poderia avaliar alguma coisas com uma "amostra" de 50 ou 100 diplomados do universo em questão? É falar por falar, claro.)
Assim, a ideia brilhante seguinte de MST deverá ser usar o mesmo método para avaliar todo o sistema de educação e formação em Portugal. E depois em toda a Europa. E depois em todo o mundo. E, já agora, por que não em toda a galáxia? Se algum terráqueo engolir tal ideia, os ET poderão engolir igual patranha. Entretanto, como MST dispõe das pessoas que passaram pelas Novas Oportunidades como se elas fossem cobaias de laboratório para as suas ideias de comentador, talvez se lhe devesse aplicar a mesma receita: que tal fazer uns exames de direito a Miguel Sousa Tavares a ver se ele ainda tem direito a ser considerado licenciado em Direito?
sim, há quem abuse das novas oportunidades
Em 2009, a anterior direcção do PSD achava que Pedro Passos Coelho nem pinta para deputado tinha. Por isso não o deixou ser candidato. Agora, com nova direcção, juram todos (???) que ele serve para primeiro-ministro. É um caso em que, de certeza, mudaram os critérios de avaliação para os ajustar ao caso pessoal do candidato. Isto, sim, parece ser um caso de abuso das novas oportunidades.
(O caso é sério.)
a campanha responsável de Passos Coelho
Passos Coelho perdeu definitivamente o tino. A "campanha responsável" por que tanto clama, retoricamente, já caiu na mais barata demagogia de que, ao virar da esquina, vai renegociar o memorando de entendimento com a troika e conseguir que se torne sabor de abacaxi aquilo que realmente sabe muito a fel.
Contudo, a demagogia já se tornou uma irresponsabilidade banal, até relativamente fácil de topar por gente atenta. PPC, não contente com isso, atirou-se a outro tipo de irresponsabilidade mais perigosa: destruir os incentivos existentes para que as pessoas façam o que é correcto para elas e para o país.
É nessa categoria de irresponsabilidade que se situa o seu ataque às Novas Oportunidades. Além de ser um ataque mal informado (podia ir ler os materiais da avaliação externa da iniciativa, que ele exige que se faça como se ela não existisse), é um ataque que se alimenta - e alimenta - um dos piores vícios da nossa vivência em comum: o doutorismo arrogante e excluente, que preza os que "chegaram lá" por serem bem embalados e despreza os que chegam lá contra as dificuldades da vida e remando contra a maré.
Um exemplo flagrante desse vício vinha bem exemplificado na primeira página do Diário Económico do dia 21 de Agosto de 2009: «Domitília dos Santos, gestora de fortunas em Nova Iorque, nasceu pobre, no Algarve. Trabalhou, estudou e quando quis voltar a Portugal, a Bolsa recusou-a por "falta de habilitações".» O jornal traçava-lhe assim o perfil: «Hoje trabalha com milhões e dedica-se ao voluntariado. É gestora de fortunas, está entre as 100 mulheres mais poderosas da alta finança.»
Em discurso directo:
«Diário Económico - A Bolsa de Lisboa é uma brincadeira de crianças?»
«Domitília dos Santos - Só sei que fui recusada por falta de habilitações. Apesar de toda a experiência que tenho, não posso trabalhar lá porque me falta um curso de cálculo.»
Espero que este exemplo ajude PPC a perceber quão aberrante é o espírito da criticazinha "doutoral" ao programa Novas Oportunidades. E que PPC meta a mão na consciência e veja como faz mal ao país fazendo campanha contra as pessoas que se esforçam por evoluir, para seu bem e para bem do país.
É que a rasteira, preconizada pelo conselheiro Capucho, não deve dar a alguém que aspira a ser PM a sensação de que vale tudo.
o Blogger continua a fazer das suas
Posts que mudem de data por sua própria iniciativa. Vídeos que trocam de post por sua alta recreação. Isto está complicado...
não se pode dizer que sejamos ingratos
Apesar dos engulhos finlandeses com a ajuda financeira a Portugal, nós também ajudamos a Finlândia. Em coisas essenciais, note-se: por causa de Portugal, só haverá "falsos finlandeses" no próximo governo. Os "Verdadeiros Finlandeses" não gostaram da finta que consistiu em separar dois carrinhos: para um lado, a aprovação da ajuda; para outro lado, as negociações para a formação do próximo governo. Como não gostaram, decidiram ficar de fora. É para que saibam que nós não somos ingratos e estamos sempre prontos a ajudar.
organização social na ordem dos primatas
Prossegue a edição 2011 do Ciclo de Conferências "Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais", com a conferência Organização Social na Ordem dos Primatas: Da Simplicidade à Complexidade, pela Professora Catarina Casanova (ISCSP, Centro de Biologia Ambiental, Centro de Administração e Políticas Públicas).
Mais informação na página desta conferência no sítio da edição 2011 do ciclo.
Serão as sociedades humanas assim tão diferentes das sociedades de outros primatas? Esta conferência promete, digo-vos eu. O comentário, que fará a transição entre a conferência e o debate, estará a meu cargo. Como imaginam alguns que conhecem mais de perto o meu trabalho, vou dirigir as minhas questões para a (real ou suposta) especificidade das instituições humanas.
Será no I. S. Técnico (Campus Alameda). Localização aqui. Entrada livre. Estão todos convidados.
não pagamos! não pagamos! olé olé olé
No debate com Sócrates, Louçã dá como exemplo de uma parte das "dívidas imorais" que deviam ser objecto de "reestruturação"... os submarinos de Portas, que os alemães investigam se meteram corrupção ou não.
Quer dizer: para os credores aceitarem de bom grado que Portugal diga "não pagamos", basta dizer-lhes que parece que houve uns maganos que meteram dinheiro ao bolso. Ficaríamos, então, famosos, não apenas por sermos caloteiros, mas mais ainda por nos desculparmos com a roubalheira indígena. Assim do género: não pagamos porque uns primos que temos cá em casa nos roubaram a massa que vossas mercês nos emprestaram.
Cada vez mais me convenço que a grande diferença entre Jerónimo de Sousa e Louçã é... a honestidade intelectual de Jerónimo de Sousa.
o PSD? já os topei!
A quantidade de disparates que têm vindo do lado do PSD, com sucessivas contradições, com o candidato a PM a desmentir/ser desmentido pelo putativo seu ex-futuro ministro das finanças, com o simpático avô que ía voltar a ser o homem das contas a prometer mexer em taxas do IVA para as colocar nos níveis em que elas já estão, entremeadas essas promessas com linguagem púbica na TV... falta-me o fôlego para a lista toda... mas o que quero dizer é isto: já topei o PSD. Eles bem sabem que vêm aí tempos difíceis. Portanto, não querem mesmo ganhar as eleições. Eles ainda aqui estão e já lhes está a doer a realidade que seria chegarem ao governo depois de terem dito tanto disparate, depois de tanto fazer de conta. Eles estão mesmo a fazer o mais que podem para evitar chegar a qualquer lugar de efectiva responsabilidade. Eles querem mesmo é morrer virgens. Como eu os percebo. No que a essa virgindade toca, claro.
Os incondicionais
Uma das doenças deste jardim à beira do mar plantado é a praga dos incondicionais.
A maleita dos incondicionais existe desde logo na política. São os incondicionais de um partido, que só vêem virtudes nesse partido e defeitos em todos os outros. São os incondicionais de um líder, que abominam qualquer discordância, logo classificada como ajuda ao adversário externo – ao inimigo, mais exactamente, porque aos incondicionais falta aquela parte dos mecanismos cerebrais envolvida em distinguir os adversários dos inimigos. São os incondicionais de uma solução para um problema, com exclusão de qualquer mistura – como se exemplifica com as parcerias público-privadas, onde parece só haver quem as considere ou “a solução” ou “um crime”, como se não houvesse linhas mais finas para separar o que é útil do que é pernicioso. Em política, os incondicionais criam, nos aparelhos vários que a praxis exige, a nuvem de fumo das realidades encomendadas: um homem rodeado de incondicionais é como se estivesse a jogar aos combates inter-galácticos num simulador e confundisse a realidade virtual com a materialidade cá fora. Obviamente, vem daí um risco para a gestão da coisa pública, risco no qual se afogam tanto a situação como as oposições. Mais o exército de comentadores, sejam encartados ou amadores, grandes ou pequenos. O que quer dizer que, deste canto da blogosfera, não devo estar isento da doença.
Fora da política, a praga dos incondicionais entranha-se no quotidiano das administrações, das empresas, das associações. Também nas repartições há incondicionais. Chamem repartições ao que quiserem, por ser isto geral. Gente que sorri sempre na mesma direcção, quando o chefe está sentado; gente que sorri como um catavento, quando o chefe deambula. Saber fazer um certo tipo de conversa redonda evita aos incondicionais limitarem-se a abanar a cabeça. Podem, dessa arte, falar, não apenas evitando discordar de quem, por definição (pela sua definição) tem razão em tudo o que disse anteriormente, mas também, pela mesma definição, haverá de ter razão em tudo o que venha a dizer futuramente. Mesmo que aquilo que sua excelência dirá somente daqui a minutos esteja ainda no limbo, quer dizer, ainda esteja por magicar na excelentíssima cabeça, tem o incondicional de antever que, quando for proferido, será certo. A emissão de uma opinião própria, mesmo que não contradiga nada das opiniões passadas de sua excelência, corre o risco de vir a entrar em colisão com opiniões mais tardias de sua excelência. Para evitar tais embaraços, há que saber falar sem dizer nada naqueles artigos da matéria em que a excelência está por saber o que opinará. Já há bastante tempo, irritei muito um “alto quadro” que não queria dar a sua excelência um conselho que se antevia que sua excelência não apreciaria. Tive que dizer a tal altíssimo quadro que era para isso que lhe pagavam, coisa que ele não apreciou. Claro, não deu o conselho, mas continuaram a pagar-lhe. Bem entendido, tonto era eu, porque em regra só se pagam os conselhos com o conteúdo previamente encomendado. E mesmo que o jurisconsulto seja de nomeada, a regra é essa. Neste campo, a praga dos incondicionais faz com que muitas organizações sejam raquíticas, não por lhes faltar dimensão, mas por lhes faltar músculo. Cabeça, quero dizer. Essa é também a razão pela qual o quotidiano de muitas organizações é um inferno, sabendo-se desde há muito da teologia verdadeira que no inferno não há fogo: no inferno o que há é uma multidão de incondicionais. E é disso que se faz o inferninho de muitas empresas, repartições, departamentos disto e daquilo.
Fora da política e também fora da economia, da labuta, da parte do dia em que se ganha para o pão, a praga dos incondicionais também mancha por vezes os círculos do lazer, dos tempos outros, da preguiça necessária e honrosa onde nos devemos libertar (mesmo que não acreditemos em Lafargue). Há amizades onde se confundem os amigos com incondicionais: o amigo é uma cópia do que eu estava mesmo a pensar dizer. Isso acontece. Até no amor (ou no casamento, se quiserem) há quem busque incondicionais: o marido extremoso que julga ser essencial que a esposa só o olhe a ele, que nunca olhe para o lado, para outro ser, não vá cobiçá-lo. O homem (para o caso, o homem ou a mulher) que teme que o seu par se interesse por algum perigo ambulante, desvie de si os olhos, pense em assuntos perigosos. Mas, se calhar, ainda é nesta parte do mundo onde há mais esperança que a doença dos incondicionais não medre.
O assunto é esse: a praga dos incondicionais é uma doença dos mundos pequenos, da fragilidade omnipresente ocasionando uma imensa rede de exploração e de opressão, mesmo que nessa exploração a opressão pareça suave e meta gente de gravata e de saia e casaco e com boas maneiras. A doença social que constitui a presença massiva de incondicionais intercalados nas nossas interacções sociais precisa ser compreendida, precisamente, como uma patologia. Ou talvez mesmo como uma perigosa invasão vinda de um mundo estranho à nossa humanidade.
14.5.11
tesourinhos da decência nacional
Parece que o jornal Público agora tem um sistema para filtrar comentários. Parece que o objectivo é que só sejam publicados comentários decentes. Parece que o filtro é humano: jornalistas que lêem os comentários e só deixam passar o que é limpo.
Então, vejam este exemplo do que é limpo nos critérios do Público.
Comentário decente que passou o filtro humano do Público: "Só cá é que ninguém faz uma espera destas ao Pinóquio."
Um lamento, portanto. Que passou o filtro do Público.
Exemplar.
Exemplar.
estão-se a afogar, os cachorrinhos
Andam por aí muitos alquimistas que julgam conseguir transformar uma mentira numa verdade pelo processo simples da repetição exaustiva. O ponto é central: dizem que Sócrates trouxe o país à bancarrota, à necessidade de pedir ajuda externa. Mas essa grande verdade é simplesmente uma grande mentira: quem empurrou materialmente o país para fora dos mercados foi a coligação negativa, liderada pelo PSD. Só depois do chumbo do PEC IV, declarada a crise política, Portugal deixou de conseguir financiar-se no mercado.
Cabe lembrar aos esquecidos que, após o chumbo do PEC IV por Cavaco + Passos Coelho + Louçã + Jerónimo + Portas + a senhora Apolónia:
- em menos de dez dias os juros da dívida subiram mais do que haviam subido nos três meses anteriores (subiram três pontos e meio);
- grandes empresas públicas de transporte foram classificadas pelas agências de rating como "lixo";
- os bancos portugueses ficaram praticamente sem acesso a financiamento externo, viram a sua "reputação" (rating) baixar para níveis assustadores, perderam 500 milhões de capitalização bolsista;
- o rating da República baixou cinco escalões;
- em poucos dias entre o pré e o pós chumbo do PEC IV, o juro a seis meses nos leilões de dívida pública subiu de 2.98% para 5.11% (um aumento de cerca de 70%).
Será a isto que se refere Catroga quando fala de responsabilizar judicialmente os políticos?
Quem empurrou o país para isto foi Cavaco, com o sinal aos rapazes de que era preciso passar à fase da rasteira (segundo a designação do conselheiro de Estado Capunho); foi Louçã, com uma moção de censura que serviu para a esquerda-mais-esquerda-não-há sinalizar à direita que alinhava no derrube; foi Passos Coelho, que decidiu lançar o país numa crise política para salvar a sua própria pele dentro do Partido. A coligação negativa empurrou o cesto para o poço e agora berra: "estão-se a afogar, os cachorrinhos".
13.5.11
o programa eleitoral IKEA
Pois. Houve tempo em que "o essencial" para o país era o Freeport; a licenciatura de Sócrates; o andar da mãe de Sócrates e as contas ignorantes acerca do mercado imobiliário, para acusar Sócrates de uma imundície qualquer; a sexualidade de Sócrates; os projectos de moradias de Sócrates; Sócrates que andava a espiar Belém.
Até chegaram a fazer uma comissão parlamentar para investigar se Sócrates tinha mentido, para se meter na cabeça das pessoas - mesmo que a comissão parlamentar não concluísse coisíssima nenhuma - que Sócrates é um mentiroso. Foi preciso Mota Amaral zangar-se com os seus correlegionários para o parlamento não fazer um uso perfeitamente abusivo de escutas.
Fizeram desse emporcalhamento da vida política nacional uma ferramenta da política do ódio, cimento essencial para a "esquerda da esquerda" e a direita poderem andar de braço dado como se não fosse nada de estrnhar. E isso passou por espectáculos degradantes como aquela coisa de sexta-feira à hora de jantar na TVI.
Nessas alturas muito menino bonito nunca se lembrou de que era preciso "falar do essencial". Até me lembro de um artigo no Expresso, de um tal Raposo, a gozar com o "respeitinho", quer dizer, a gozar com a ideia de que um mínimo de respeito deve ser... isso: respeitado na vida política.
E agora gostariam de, em nome do "essencial", ter uma comunicação social que desviasse os olhos do espectáculo do "programa eleitoral tipo IKEA": leve as peças para casa e monte você mesmo.
um retrato de campanha
(João Abel Manta)
O episódio da baixa da Taxa Social Única (TSU) é muito revelador do que se anda a passar nesta campanha.
Louçã, a esse propósito, acusa Sócrates de ser igual a Coelho por ambos terem subscrito o memorando de entendimento que prevê a baixa dos custos do trabalho. Louçã não parece nada interessado na lembrança de que, no passado, o PS recusou a insistente proposta do PSD para baixar a TSU - e, com a arrogância do costume, diz a Sócrates que este promete "lá fora" uma coisa e diz outra "cá dentro" (um toque de nacionalismo, não menos serôdio por ser subliminar). Louçã prossegue a narrativa de que, entre PS e PSD venha o diabo e escolha.
Sócrates assume (a contragosto, como eu o compreendo) que há aí um problema, por ser essa uma matéria que o governo não queria incluir no acordo, mas a troika impôs. Já se sabe: quem empresta o dinheiro que precisamos consegue, normalmente, impor condições. O governo não podia fazer de conta que Portugal teria o cacau sem ceder de modo nenhum às exigências dos emprestadores. Claro, Louçã está numa posição muito mais fácil: nem sequer reuniu com a troika, basta-lhe dizer que está contra tudo e ir propondo fundos de resgate que, eventualmente, acabariam por resolver o nosso problema daqui a alguns anos - quando a massa, a pasta, o canudo, o pilim é necessário já. Louçã, o valentão, estaria até capaz de exigir à troika que impusesse a co-gestão generalizada nas empresas portuguesas, como aproximação social-democrata a um futuro controlo operário da economia. Falar é fácil para quem não espera vir a ter de governar. O PS não está nessa posição, o que faz uma grande diferença.
Portas, que nas horas vagas gosta de fazer ar de estadista, talvez para irritar Coelho no seu ar juvenil, assinou o acordo com a troika mas diz que emitiu umas reservas - e que uma das reservas era sobre a possibilidade de baixar a TSU, porque isso se calhar não se pode fazer sem aumentar impostos. A troika está-se a marimbar para as reservas de Portas - e isso não muda por causa destes "momentos Louçã" de Portas, que são os momentos em que Portas faz de conta que, se for para o governo, pode fazer render as suas reservas ao memorando de entendimento.
Já Coelho assume em pleno o seu troikismo. Não só reivindica como sua a ideia de baixar a TSU, como quer que o PS mostre grande entusiasmo com a ideia. Coelho não percebe que Sócrates tenha sido obrigado a engolir certos aspectos do memorando por patriotismo, não por ideologia. Claro que Coelho desautoriza Catroga (não são nada 8% que eles querem baixar, são só 4%); claro que Coelho deita sempre água no vinho (serão 4% ao longo de 4 anos, sem dizer qual será o ritmo) - mas, no essencial, Coelho está contente porque a troika impôs uma ideia sua. É natural: Catroga reivindicou, no primeiro minuto, que o acordo com os emprestadores era o que era graças à boa influência do PSD. Embora, agora, Coelho esteja sempre a dizer que "o governo assinou o acordo".
Pois, é que há quem, nos momentos difíceis, se chegue à frente e engula a pílula. Foi o que fez o governo do PS. Nos mesmos momentos difíceis há sempre, também, quem se sente na bancada a dar palpites. Ou até a rir-se das dores dos outros.
um programa eleitoral on demand
Esta manhã, antes de sair de casa, ouvi na rádio uma história dos novos tempos.
Pedro Passos Coelho terá ido, ontem, ao lançamento de um livro, do qual é prefaciador. Um livro onde se falará de educação. Na sessão, o autor do livro queixou-se do programa eleitoral do PSD para essa área da governação. Queixava-se o autor de o programa do PSD ser demasiado parecido com o do PS. (Um notável critério político para traçar políticas, convenha-se.) Passos Coelho, em ode à interactividade instantânea que alguns pensam ser a marca do tempo que corre, prometeu, logo ali, repensar o dito programa eleitoral, para ir ao encontro das preocupações daquele autor. Penso que não terá chegado ao ponto de pedir a SC, o autor, que fizesse logo ali a revisão – mas também não sei quem, nem como, se disporá a rever o programa para o governo de Portugal em função de queixas que se vão ouvindo por aí em sessões avulsas.
O PSD inaugura assim um novo tipo de programa de governo: o programa “faça você mesmo”. Que deve ser, pelos critérios dos novos tempos, uma inovação à altura de um… Estadista (com maiúscula e tudo.)
("Isto" foi escrito hoje de manhã, aí pelas 9 horas, mas esteve congelado, porque o Blogger esteve uma eternidade de pantanas. Ou será de santanas?)
11.5.11
o bicharoco económico
Daniel J. Rankin abre um pequeno artigo, na Trends in Ecology and Evolution de Janeiro deste ano, intitulado "The social side of Homo economicus", com um ditado eslovaco que, segundo ele, reza assim: "Quem não rouba, rouba a sua família".
Anda por aí muito menino que pensa assim.
a Europa faz-se pagar
Bruxelas aprova ajuda a Lisboa com taxa de juro até 6%.
«Desde a decisão do Ecofin de Budapeste que, como o Diário Económico noticiou, ficou claro que o juro da primeira tranche não poderia ficar longe de 6%, mas a expectativa criada pelas declarações da ‘troika' em Lisboa foi de um valor mais baixo. »
Relativamente à informação que tinha anteriormente, isto é novidade. E das más. A "Europa" esforça-se muito por dar razão aos anti-europeístas.
>
10.5.11
Machina Enxuta, número 2,5
Amanhã há Machina Enxuta, número três.
Como aperitivo, deixamos aqui uma interessante deambulação linguística do Miguel Magalhães.
o enjeitado
Passos Coelho, no debate com Jerónimo de Sousa, repetiu várias vezes que o acordo com a troika "foi assinado pelo governo". Claro que foi assinado pelo governo - acompanhado da co-responsabilização política do PSD. Estar agora a sugerir que "isso foi coisa do governo" é pura aldrabice política: está a fazer de conta que não teve nada a ver com isso. Será que Passos Coelho já se esqueceu de que o seu ministro das finanças, Eduardo Catroga, praticamente reivindicou a autoria moral do memorando de entendimento?
'Negociação foi essencialmente influenciada' pelo PSD, diz Catroga.
candidato a primeiro-ministro, que descaramento
Tenho visto que há por aí pessoas escandalizadas com o facto de Paulo Portas se considerar, ou ser considerado, candidato a primeiro-ministro. Parece que há quem julgue atrevimento. Claro, não há candidatos ao lugar de primeiro-ministro numas eleições legislativas, formalmente. Mas não será por isso que alguns se escandalizam: nesse caso teriam também de escandalizar-se por haver um candidato a presidente do parlamento. Parece que o escândalo vem de se achar que Portas é um atrevido, querendo "mudar de posição no pódio". Estou muito, muito longe politicamente de Paulo Portas. Parece-me, contudo, que nada há de mais legítimo do que um partido reivindicar que merece mais do que outro, seu concorrente, os votos de um certo eleitorado. Se não é para isso, para que servem as eleições?
Ética e Robótica no século XXI
Amanhã prossegue o Ciclo "Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais", com a Conferência Ética e Robótica no século XXI, a ser proferida pela Prof. Isabel Ribeiro, Professora Catedrática no Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores, Instituto Superior Técnico, e Investigadora no Instituto de Sistemas e Robótica.
Hora e local: 11 de Maio, 17:30, Anfiteatro do Complexo Interdisciplinar do Campus Alameda do ISTécnico.
Mais informação (nomeadamente resumo da conferência e localização), clicando nesta ligação.
Entretanto, para irem pensando nestas coisas, fica um pequeno vídeo.
9.5.11
a resposta finlandesa
Não sou nada adepto de nacionalismos, mas acho normal um positivo orgulho nacional. Não vejo grandes razões para algumas críticas que por aí andam ao vídeo "de Cascais para a Finlândia", embora pudesse ter mais destinatários. Ou destinatários mais específicos. É uma forma de lembrar alguns factos que, se calhar, mesmo a alguns portugueses esquecem. E não me parece que seja ofensivo para os finlandeses. Entretanto, a resposta finlandesa ao vídeo português é fraquinha. Em particular, é mais curta. É natural: eles andam por cá, como país, há muito menos tempo. E, na verdade, fizeram menos coisas verdadeiramente grandes. No todo, os dois vídeos são uma boa peça de conversa intra-comunitária, se calhar mais eficaz do que muita propaganda oficial.