Ninguém abomina mais do que eu o facilitismo. Mas também abomino a conversa da treta sobre facilitismo. A conversa que por aí vai sobre facilitismo nas Novas Oportunidades bem podia ser colocada em perspectiva.
Desde logo, uma formação elementar em lógica deveria fazer compreender que o argumento "eu conheço uns casos de facilitismo" não é argumento para ajuizar de um programa. Em primeiro lugar, porque "uns casos" não é base para avaliar o que se passa em centenas de milhares de casos. Na verdade, muitos dos casos invocados de facilitismo são de ouvir dizer. Depois, porque quem assim fala pressupõe, com demasiada facilidade, que tem competência (e informação correcta) para avaliar o que é e o que não é facilitismo. É típico: "ELES são todos uns ignorantes, EU é que os topo".
Valeria a pena, para colocar em perspectiva, fazer o paralelo seguinte. Aqui há uns anos, Portugal quase não dava equivalências a doutoramentos realizados no estrangeiro, e as que dava eram o cabo dos trabalhos (comissões complicadas, tempo infindo para analisar o objecto). Havia o reconhecimento propriamente dito e havia, separadamente, a equivalência. Podia percorrer e chegar ao cabo do calvário do reconhecimento ("toma lá, és doutorado"), mas, mesmo assim, sem equivalência, que estava dependente de uma comparabilidade relativamente forte com alguma coisa que existisse entre nós, o "ser doutor por extenso" podia não ser mobilizável, por exemplo, para prosseguir uma carreira docente decente no ensino superior. Argumento, claro: a qualidade. Era para preservar a qualidade! Não queremos cá doutoramentos que não satisfaçam os altíssimos critérios da academia nacional, que é a melhor do planeta e arredores.
Algumas vezes (as mais das vezes?), estes mecanismos têm uma explicação muito aborrecida: há sempre os que, estando do "lado de dentro do sistema", arranjam a desculpa do facilitismo para evitar que outros cheguem ao mesmo sítio.
Que tal vermos tudo isto em perspectiva?