1. Nas eleições presidenciais de janeiro de 2026 está em causa eleger um Presidente da República que cumpra e faça cumprir a Constituição da República Portuguesa, que garanta o regular funcionamento das instituições democráticas - e, para isso, não esteja sempre a inventar teorias próprias (até por falar demais) que, depois, o arrastam para intervenções que resultam no abalroamento dos demais órgãos de soberania, na interrupção avulsa dos ciclos governativos e na progressão das forças antidemocráticas que se têm alimentado da campanha eleitoral constante.
2. Para atingir tal objetivo, acredito ser importante que não seja eleito nenhum dos candidatos que se limitariam a reforçar a atual coligação informal no poder: Montenegro, Nuno Melo e André Ventura. O próprio AV poderia querer ir além disso, mas, apenas, reforçando o seu peso no saco global da atual direita, onde o atual PSD e o atual CDS estão subjugados à logica da extrema-direita. Marques Mendes faria o mesmo papel de reforço da coligação informal no poder, embora pesando mais do lado daquela que foi em tempos a direita tradicional. O candidato Henrique Gouveia e Melo gostaria que acreditássemos que ele seria um bom Presidente: talvez ele tenha razão, talvez ele até pudesse vir a ser um bom Presidente, mas, para o bem e para o mal, nada do que tem dito ou feito desde que se apresentou como candidato nos tem dado garantias sólidas do que seria no cargo – e o país não está para aventuras. Por isso, também nós não devemos estar para aventuras.
3. Neste contexto, o importante, para já, é que na segunda volta não tenhamos apenas candidatos da direita. O objetivo que me fixo é que haja escolha na segunda volta e que nessa escolha caiba alguém que, claramente, tenha provas dadas de fidelidade à Constituição.
4. E não há outra maneira de alcançar esse desiderato a não ser votando em António José Seguro, votando em número suficiente para o fazer passar à segunda volta.
5. Não vai, nesta análise, nenhuma falta de consideração por outros candidatos de esquerda, como António Filipe, Catarina Martins ou Jorge Pinto. Apesar das discordâncias com algumas coisas que têm dito, são estimáveis – mas não estão em condições de contribuir para evitar que a segunda volta seja entregue apenas a candidatos de direita.
6. É um erro pensar que a primeira volta não interessa e que na segunda volta logo pensamos o que fazer. É à primeira volta que temos de garantir que as nossas opções não ficam limitadas a escolher entre dois (diferentes ) candidatos de direita. É o nosso voto na primeira volta que vai definir o que estará ao nosso alcance no resultado final.
7. Por isto, apoio o candidato António José Seguro.
8. O meu voto em António José Seguro não tem nada a ver com lutas passadas dentro do PS. Dentro do PS, nunca apoiei António José Seguro (nem ele me apoiou a mim!). Do mesmo modo que, em 2014, apoiei António Costa, mesmo sendo igualmente verdade que, antes, nunca o tinha apoiado em nada de partidário (e vice-versa). Não estamos a escolher ministros, nem primeiros-ministros, nem secretários-gerais, nem líderes de facção: estamos a escolher um Presidente. Não confundamos as coisas.
9. Não tenho da política a visão romântica que espera pelo cavaleiro andante das virtudes. Não voto para santidades, nem para heróis. Voto para certas pessoas, concretas, reais, de carne e osso, em certas circunstâncias, desempenharem certos cargos – e voto para evitar que outros lá cheguem. Nesta Presidenciais, antes de elas efetivamente começarem, o meu candidato preferido seria Mário Centeno, por me parecer que era o que, partindo da esquerda democrática, mais potencial tinha, à partida, para alargar o seu campo eleitoral. Mas essa candidatura não está em cima da mesa, nem no boletim de voto. O meu voto é para escolher na circunstância que se nos apresenta, como se apresenta. Para evitar que isto seja um passeio de variantes da direita, para garantir que não tenhamos de escolher entre direita e direita, voto António José Seguro. Não será um santo, nem um cavaleiro andante, mas será, de todos os que se apresentam, o que dá mais garantias de cumprir e fazer cumprir a Constituição, de assegurar o regular funcionamento das instituições e de não dar alimento aos fascistas – nem aos que caem nos seus cantos de sereia.
Porfírio Silva, 30 de Dezembro de 2025

