Os líderes de sete países "do Sul" da União Europeia, entre os quais António Costa, reuniram-se em Atenas para conciliar pontos de vista sobre o futuro imediato da União, tendo em vista a cimeira informal de líderes europeus em Bratislava (Eslováquia) na próxima semana
O PM grego, que desde há algum tempo se coordena com os socialistas europeus, chamou a estes encontros, que já passaram por Paris e continuarão em Lisboa, "iniciativa de diálogo e coesão".
Os participantes, quer pela declaração final quer pelas suas vozes individuais, sublinharam que estas reuniões servem para mais união na Europa e reafirmaram o seu forte empenho na UE.
Contudo, o ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble, comentou a reunião nestes termos: “Quando líderes de partidos socialistas se encontram não sai, na maioria das vezes, nada de muito inteligente”. Uma declaração política sem nenhum conteúdo construtivo, carregada apenas como uma declaração de hostilidade.
Outros responsáveis da Direira europeia falaram no mesmo sentido acusatório da reunião de Atenas. Parece que Dijsselbloem, o cardeal austeritário que é dirigente de um partido da família social-democrata na Holanda, terá dito algo no sentido de pressionar a Grécia, mas ainda não percebi exactamente se colocou essas declarações no mesmo quadro (não me surpreenderia, mas não estou certo).
No seio da UE sempre houve "grupos", mais formais ou mais informais. Nunca isso foi motivo de escândalo - e, em princípio, ninguém costuma ter a lata de criticar de forma pública e brutal essas formas suaves de coordenação.
Aliás, está muito activo, hoje em dia, um grupo "regional" com uma marcada carga ideológica, o chamado grupo de Visegrado, que inclui Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia, que se formou para contrariar a política de abertura da Alemanha face aos refugiados. Esse grupo, que também se reuniu nos últimos dias, com a mesma intenção de coordenação política prévia à cimeira de Bratislava (Eslováquia) na próxima semana, não merece ao ministro das finanças alemão tanta aspereza - embora, provavelmente, a chanceler tema mais o grupo de Visegrado do que os socialistas e social-democratas que foram a Atenas.
Isto mostra algo essencial: o debate está lançado na Europa. A reacção brutal e primária do ministro das finanças alemão tem uma coisa boa: a reunião de Atenas não o deixou indiferente. Provavelmemte, a reunião de Atenas assustou-o. Isso é bom.
Está lançado o debate e não vai ser travado. Isso assusta aqueles que temem a democracia. Isso assusta aqueles que, até agora, basearam o seu poder político no esmagamento do debate no seio das instituições europeias. Há, hoje, apesar das fraquezas da alternativa social-democrata e socialista, uma vontade política de coordenação, de juntar aliados, de construir propostas alternativas realistas - e isso nota-se e isso assusta alguns.
Falta dizer que a nova esperança de uma alternativa para a Europa se alimenta bastante da força política da solução portuguesa. Por isso o êxito da Geringonça importa aos portugueses, mas importa a muitos mais por essa Europa fora.
10 de Setembro de 2016
(foto de Stephanie Pilick/Epa/Lusa)