20.2.15

e que tal um Erasmus na Grécia para Passos?



Houve um acordo no Eurogrupo, do qual pouco se sabe por enquanto. Mas algo se pode já dizer.

Primeiro, o meu optimismo estava certo: valeu a pena afrontar o pensamento único; foi possível abrir uma fresta no nevoeiro do "não há alternativa"; nunca me assustei com os radicais que pensavam poder correr a Grécia a golpes de "contos de crianças", porque esses radicais estavam cegos ao fundamental e teriam de ceder perante a realidade. Infelizmente, o governo de Portugal foi o mais ridículo de todos no espectáculo de disparates que têm sido ditos por estes dias.

Segundo, até um governo da "esquerda da esquerda" é capaz de encontrar um caminho que não passe necessariamente por uma fórmula mágica qualquer. Neste caso, a solução não vai, pelo menos para já, passar pelo corte ou perdão da dívida. Aqueles que pretendem que não é possível conceber nenhuma saída sem passar por essa porta terão, a partir de agora, de aceitar que têm razão os que mantêm em aberto um leque mais vasto de opções. Como vem dizendo António Costa, há meses, o que importa é que o peso da dívida não impeça o cumprimento das obrigações constitucionais e não obstaculize o investimento necessário para crescer e criar emprego. E, com 28 Estados à mesa, não podemos prometer que a saída será exactamente esta ou aquela: precisamos é de sabermos o que queremos e encontrar o caminho até lá.

Terceiro, e muito importante para o futuro, é que o governo grego terá de dizer que reformas vai fazer para melhorar a situação do país. E, aqui, a direita acha sempre que sabe quais são as reformas: destruir os serviços públicos, cortar salários e precarizar trabalhadores, privatizar. Mas a esquerda tem que ter outra visão das reformas. Por exemplo, no caso da Grécia, é claro que é importante combater a enorme evasão fiscal, tal como é necessário promover a eficiência do Estado e combater a corrupção. E o governo grego quer fazer isso. E é de esquerda fazer isso. Parte importante das próximas batalhas está mesmo aí: promover uma ideia alternativa de reformas estruturais, para acabar com o mito de que as reforma da direita é que fazem bem à economia e aos povos - porque não fazem, como vemos.

Em suma: os profetas da desgraça estão a perder a guerra. E os ridículos profetas do empobrecimento mostraram ao mundo como é triste estarem fechados na sua bolha ideológica.