3.10.14

é difícil mudar o mundo. (Roberto Mangabeira Unger)


Roberto Mangabeira Unger, filósofo da sociedade e da política, professor em Harvard, ex-ministro de Lula, disse em Janeiro deste ano:

Esta abordagem à sociedade e à história, que eu estou a defender, está associada à rejeição de dois erros - ou duas heresias – acerca da estrutura. Um dos erros é o que se pode chamar "A Heresia Hegeliana ". Essa consiste na ideia de que há uma grande convergência ou sucessão histórica e que, no final, teremos uma estrutura definitiva. Ora, a verdade é que nunca há uma estrutura definitiva, porque nenhuma disposição da sociedade e da cultura pode alguma vez fazer justiça a quem nós somos, à nossa capacidade de experiência, de visão, de produção, de associação. Depois há a heresia oposta, que se poderia chamar a heresia "romântica" ou "Sartreana". Esse ponto de vista é que não podemos realmente destruir o poder das estruturas, mas podemos moldá-las temporariamente por meio do amor romântico e da vida pessoal ou por meio da multidão nas ruas em protestos políticos – revoluções. Nós poderíamos ter esses interlúdios de disrupção da estrutura e nesses interlúdios tornar-nos-íamos verdadeiramente humanos e, posteriormente, as estruturas - mais uma vez – ruiriam com o toque de Midas, matando o espírito com o regime. Ora, estas duas heresias são ambas deficientes em termos de esperança e de visão. E, o que eu acredito é que ao longo do tempo podemos criar estruturas que nos permitam envolver-nos nelas sem nos rendermos a elas, e que a criação de tais estruturas está intimamente ligada aos nossos mais fundamentais interesses materiais e morais. Afinal de contas, nós somos os seres que são formados pelo contexto mas que sempre transcendem o contexto.

A entrevista de onde retirei (e traduzi) este excerto pode ser lida e ouvida aqui: Roberto Unger on What is Wrong with the Social Sciences Today?

Roberto Mangabeira Unger ainda pode ser ouvido hoje em Lisboa (cf. cartaz).