5.7.17

Ciência 2017

12:08



Estive esta manhã a intervir no Ciência 2017, tal como os demais representantes dos diferentes grupos parlamentares na Comissão Parlamentar de Educação e Ciência.Nos poucos minutos que nos foram dados, procurei focar os seguintes pontos:

1. A ciência atinge o seu melhor quando não está fechada em fronteiras, quando se abre ao mundo - e isso coloca a questão da internacionalização da actividade científica. Também por aqui somos europeístas, porque não será produtivo estarmos sozinhos no mundo global: participando no espaço da UE, estaremos de forma mais proveitosa no mundo global.

2. Não obstante, no plano dos diferentes territórios no país, é preciso democratizar o acesso à internacionalização. Não pode haver outra divisão litoral/interior no acesso do conhecimento à internacionalização, não podemos aceitar que viver em certos territórios implique ficar para trás no acesso da investigação à internacionalização. Por isso é importante, por exemplo, o actual investimento em intensificar o esforço de investigação feito nos Politécnicos.

3. Outro caminho que é preciso traçar, ao mesmo tempo, é aprofundar a interacção entre ensino e investigação. Há espaços onde essa interacção é forte, mas também há espaços de resistência a essa interacção. Precisamos que o ensino (e a aprendizagem) seja mais robustecido com a prática da investigação, precisamos que a investigação contribua para robustecer o ensino (e a aprendizagem). Essa questão coloca-se no plano das carreiras (de docência e de investigação), mas também se coloca como desafio às próprias instituições, em termos de estratégia e de governação. Esse acréscimo de interacção entre ensino e investigação deve ser benéfico quer para os profissionais, quer para o desenvolvimento institucional.

4. Precisamos também ultrapassar algumas dicotomias improdutivas. Por exemplo, excessiva insistência na utilidade da investigação aplicada, com menor apoio à investigação fundamental, seria um erro. Apostar só (ou quase só) em investigação aplicada seria, a prazo, matar a ciência como um todo. Os sistemas de produção de conhecimento não podem guiar-se quase exclusivamente pela “competitividade à vista”, imediata – mesmo que esse enviesamento nos seja apresentado com as roupagens da inovação.

5. O chamado “mercado” não pode ser o único, ou quase exclusivo, destinatário da produção científica. A comunidade nacional organizada, o Estado, precisa de recorrer mais assídua e intensamente ao conhecimento, para que tenha oportunidade de melhorar a qualidade da decisão. Isto implica escolhas acertadas quanto à configuração da rede de unidades de investigação, na sua diversidade e coerência.

6. Aprofundar a ligação entre conhecimento e sociedade passa, também, por responder ao desafio da multidisciplinaridade – pelo menos, quando essa multidisciplinaridade é necessária para considerar os aspectos societais dos problemas. Neste Ciência 2017 já houve um interessante debate em torno da questão dos incêndios – e esse é um bom exemplo para o que quero dizer. A questão dos incêndios não é só a questão da propagação do fogo, nem só a questão da meteorologia. Como muitos já assinalaram, também é a questão da organização territorial do país, a questão social das transformações do mundo rural, a questão do ambiente no sentido mais vasto. E aqui já precisamos de uma ampla multidisciplinaridade para compreender o que está em causa. Mas há também – e aqui temos outro alargamento – a questão política da forma como uma comunidade nacional se organiza para resolver problemas complexos e que só podem ser enfrentados com sucesso num prazo longo. Há a responsabilidade política (como é que não resolvemos isto depois de 30 anos?), mas é uma responsabilidade política que não é só dos chamados políticos. É uma questão da comunidade como um todo, como é que organizamos um processo de decisão tão complexo – e esta questão também deve mobilizar conhecimento, provavelmente de áreas de conhecimento que alguns tendem a desvalorizar.



#Ciencia2017PT


Porfírio Silva, 5 de Julho de 2017
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2.7.17

Quando o país está melhor

21:35



Ontem participei na apresentação do Pedro Ribeiro como candidato do PS a Presidente da Câmara Municipal do Cartaxo. Foi um privilégio, quer pela mobilização que testemunhei, quer pela qualidade da obra e do projecto da candidatura, envolvendo também os candidatos às Juntas de Freguesia e à Assembleia Municipal. O discurso de Pedro Ribeiro foi bem um sinal dessa vitalidade. #CartaxoMelhor #PedroRibeiro2017

Na minha intervenção, além de temas autárquicos, foquei também aspectos da situação política nacional. Deixo parte do que disse nessa ocasião.

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Portugal está melhor.
Começámos a devolver rendimentos às famílias.
Voltámos a investir nos serviços públicos: nunca tivemos tantos profissionais no Serviço Nacional de Saúde desde o início da crise; há muitos milhares de portugueses que ainda não tinham médico de família e a quem está a chegar esse serviço; nunca houve tantos professores nas escolas como este ano.
Conseguimos dar um novo alento à economia: é por isso que o desemprego baixa e o emprego sobe. Em Abril, com 9,5 de taxa de desemprego, tivemos o valor mais baixo de desemprego desde Dezembro de 2008. O emprego continua a aumentar.
Afinal, não era preciso mandar as pessoas emigrar, nem dizer que os portugueses viviam acima das possibilidades, nem era preciso o sistemático desrespeito pela Constituição. O que era preciso era juntar a noção de progresso do país e a noção de qualidade de vida das pessoas. O que foi preciso foi deixar para trás aquela teoria de um alto dirigente do PSD, que dizia que o país estava melhor, embora a vida das pessoas não estivesse melhor. Para nós, o país só está melhor quando a vida das pessoas estiver melhor.

Afinal, até os mais céticos começam a dar sinal de finalmente compreenderem que o governo do PS está a fazer o que é preciso fazer. A Comissão Europeia começou a querer aplicar sanções a Portugal, pelos maus resultados de 2015, que não eram da responsabilidade da atual governação. Hoje, a Comissão Europeia confia que sabemos o que estamos a fazer.
E, temos de dizê-lo, conseguimos mudar a atitude da Comissão Europeia face a Portugal porque temos um governo europeísta, que quer mudar as políticas europeias quando essas políticas estão erradas, mas não está contra a Europa nem está contra os nossos parceiros europeus. E esse europeísmo esclarecido do nosso governo foi fundamental para o percurso que temos vindo a fazer.
E agora até o FMI, que teve o papel que se sabe no programa austeritário, acabou de fazer uma previsão de crescimento da economia portuguesa para 2017. A previsão é um crescimento de 2,5% para este ano. Ora, a verificar-se essa previsão, 2017 seria o melhor ano para a economia portuguesa desde a nossa adesão ao Euro.
Os níveis de confiança dos consumidores estão a bater recordes históricos. E todos sabemos como a confiança é importante.

Mas não nos equivoquemos: há ainda muito para fazer. Não é tempo de repousar sobre os louros dos sucessos alcançados. Porque, em boa verdade, estamos ainda apenas a firmar as bases do muito que tem ainda de ser feito. Até porque é preciso ainda percorrer um longo caminho para devolver aos poderes públicos todas as capacidades necessárias para que o Estado, no seu todo, a nível central e a nível local, seja eficaz e eficiente a prosseguir o bem público.
Uma certa Direita, e alguns comentadores de serviço, andaram décadas a defender o Estado Mínimo. À boleia das teorias do Estado Mínimo, o Estado foi enfraquecido e entregaram-se aos privados funções que deviam ser assumidas por um Estado Social de Direito, e até funções que, em bom rigor, deviam ser consideradas funções de soberania - num conceito robusto e democrático de soberania.
Nada temos contra a economia privada, cujos direitos fazem parte da nossa conceção de sociedade livre, aberta, de iniciativa. Nada temos nada contra quem, respeitando as regras, procura o lucro. Mas a prossecução das funções de soberania não pode ser confundida com a prossecução do lucro. Ambas são legítimas, mas são diferentes. Ora, não se respeitando essa diferença, enfraquece-se o Estado, enfraquecem-se os serviços públicos, desprotege-se o país e as pessoas.
E essas políticas inspiradas na ideologia do Estado Mínimo têm consequências. Não podemos descuidar o nosso automóvel, andar por aí com os pneus carecas, e depois ficarmos surpreendidos porque há um despiste.
E muito menos é admissível, como alguns fazem, que aqueles que deixaram os pneus carecas sejam os que mais barulho fazem a criticar o condutor.
O governo do Partido Socialista está a reconstruir o papel que o Estado deve ter numa sociedade democrática, livre, aberta à iniciativa de todos mas que cuida do bem comum, que cuida do interesse geral, que olha para as responsabilidades do futuro e não apenas para o momento presente.

Mas Roma e Pavia não se fizeram num dia. Enfrentamos uma tarefa imensa.
Precisamos muita humildade para fazer o que é preciso fazer. Não é só ter as políticas certas. Ter as políticas certas é muito necessário. Mas também é preciso ter a atitude certa.
Combater toda a arrogância. Evitar qualquer triunfalismo. Manter a humildade de ouvir e respeitar, e a humildade de sabermos que há muito ainda por fazer.
Mas também não nos resignamos face às dificuldades: mantemos a determinação de quem quer continuar a fazer cada vez melhor.

2 de Julho de 2017

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